24 - A DESPEDIDA



24 - A DESPEDIDA 


 - Está brincando comigo...

- Não, pai... estou falando sério...

- Sério?! Como pode estar falando sério, menina?...

- É verdade, pai... eu e a Graça vamos procurar o Zé Ferreira...

- Tá ficando louca... só pode...

- Claro que não... a gente aceitou uma empreitada e vai em frente... não foi isso que o senhor me ensinou?

- A bancar a doida?

- Pai...

- Menina, me escuta bem... o que você e sua amiga querem fazer é loucura...

- Porque?

- Porque você não está pronta para isso... só por isso....

- Como assim, não estou pronta?

- Você acha que perseguir uma pessoa é assim? Você resolve que vai e pronto?

- Claro que não, né...

- Já pensou se tiver que sair no braço com ele? Vai apanhar que nem gente grande...

- O senhor só pensa o pior...

- Ué... acha que ele vai se entregar de boa para vocês...   é só dizer que o capturaram e ele vai vir que nem um cordeirinho...

- De repente...

- Acorda, menina...  ele sabe o que o Leôncio quer. E se você pensa que ele vai se entregar...

- Pai, a gente sabe disso. E nós vamos armadas...

- E você acha que carregar uma arma é suficiente?

- Acho...

- Tudo bem... vamos imaginar que vocês conseguem encurralar o sujeito...

- Certo...

- E ele reage e começa a mandar besouro sem asa prá cima de vocês...

- Besouro sem asas?!...

- Ele começa a atirar contra vocês...

- Bom, aí a gente se protege em algum lugar, né?... e espera a munição dele acabar....

- E acha que isso vai dar certo...

- Ué, claro que vai...

- E suas armas? 

- O que tem elas?

- Não vão usá-las?

- Só se for absolutamente necessário...

- Ah... quer dizer que ele mandando bala prá cima de vocês não torna necessário revidar...

- É perigoso... e se a gente o matar?

- Bom, se ele está atirando, ele está pensando em fazer isso com vocês...

- Eu...

- Está vendo? É sobre isso que estou falando... se você vai atrás de alguém, tem que estar disposta a usar de todos os meios disponíveis... para atacar e se defender...

Maria ficou calada por alguns instantes. Sabia que seu pai estava certo. Mas não queria dar o braço a torcer... em todo caso... se desse certo, poderia ir embora daquele fim de mundo, procurar uma vida melhor, onde teria condições de ter mais que um vestido de chita comprado a duras penas no natal... Graça estava chegando, toda paramentada. O cavalo baio que Leôncio disponibilizara para ela era realmente bonito, e era bom de corrida. Para Maria ele havia cedido um cavalo preto, cujo nome era Ventania. O baio era chamado de Corisco. Se eram rápidos mesmo ou se apenas o nome dava essa impressão, logo descobririam... graça desmontou em frente à casa de Zacarias e foi ter com a amiga. Zacarias balançou a cabeça, pois tinha medo que as moças enfiassem os pés pelas mãos...

- Está pronta?

- Estou me despedindo do meu pai...

Zacarias olhou para a garota...

- Graça, não acha que o tempo está um pouco quente para usar roupa preta? Com esse sol que vai fazer hoje, você vai cozinhar em cima do cavalo...

- Não se preocupa não, seu Zacarias... eu sei o que estou fazendo...

- Sabe mesmo? Sabe usar essa arma que está em sua cintura?

- Ué, é só apontar e puxar o gatilho...

Zacarias olhou primeiro para Graça, depois para Maria... não ia impedir a filha de sair, pois desde a mais tenra idade ele a ensinou a seguir seu coração... e não seria agora que ele iria cortar suas asas, mesmo sendo essa a vontade que sentia. Tinha medo que sua filha se machucasse na aventura em que estava se metendo... ele sabia que as duas moças não estavam preparadas para enfrentar uma situação desse porte... mas seu lema de vida era: " é caindo que se aprende a levantar...."

Quando Maria ia montar seu cavalo, Zacarias a interpelou...

- Não vai verificar se sua arma está municiada?

- Mas, pai... eu sei que ela está carregada...

- Sabe, nada... verifica...

- Pai...

- Estou falando sério... verifica o tambor da sua arma...

Meio a contragosto, pois tinha certeza que sua arma estava carregada, Maria destravou o tambor e foi examinar as câmaras... ficou surpresa ao ver que não havia nenhuma munição na mesma.  Vendo isso, Graça resolveu verificar também... e sua arma também estava descarregada...

- Agora imaginem que vocês duas precisassem da arma e descobrissem na hora que ela estava sem munição... já pensaram na situação?

As duas moças ficaram sem resposta. Afinal, elas foram desatentas com seu equipamento, não podiam negar...

- Meninas, já que vocês resolveram fazer essa besteira, aprendam uma coisa... a gente sempre examina nosso armamento... confiar sem verificar é assinar sua condenação à morte...

As duas montaram e se preparavam para partir.

- Um ultimo conselho... fiquem sempre atentas e jamais deem as costas para seus oponentes... entenderam?

As duas assentiram com a cabeça...

- Então, vão... e que Deus as proteja...

Então as duas partiram, sem olhar para trás. Zacarias ficou ali parado, vendo as duas moças sumirem na linha do horizonte... e ficou pensando em que enrascadas as duas iam se meter...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

QUEM SOMOS NÓS?

23 - A NEW DIRECTION

SELF-ACCEPTANCE