34 - PEGADAS NO PASTO
34 - PEGADAS NO PASTO
Juca estava preocupado. As marcas que encontrou no solo não se pareciam com nada que já tinha visto. Caminhava lentamente, puxando seu cavalo pelas rédeas e tentava entender o que era aquilo que estava à sua frente. Parecia a marca da pata de um animal, mas ao mesmo tempo não era... Pensou se não seria melhor chamar seu Zacarias, mas no final chegou à conclusão que era melhor investigar o que estava acontecendo, primeiro...
Depois de algum tempo, as marcas simplesmente sumiram. Ele procurou cuidadosamente, tentando ver se não haviam apagado os sinais da passagem, mas realmente os sinais desapareceram, como se de repente o que quer que estivesse caminhando por ali tivesse se evaporado. Juca amarrou seu cavalo em um arbusto e voltou a examinar o chão. Não tinha como as marcas desaparecerem daquele jeito... o chão não era pedregoso, aliás, a terra era bem macia naquele local. Ou seja, não havia nenhuma explicação lógica para as marcas desaparecerem, assim. Mais um mistério para pensar. É, não tinha jeito... o negócio era chamara seu Zacarias, mesmo. Com certeza, ele poderia encontrar uma explicação para aquilo...
Na verdade, Juca havia descoberto as marcas por acaso. Nada havia no campo que denunciasse qualquer alteração... mas, do nada, surgiram os sinais no chão. Tão abruptamente como haviam desaparecido. Como o dia ainda estava alto, ele resolveu caminhar pelos pastos, à procura de mais algum sinal estranho. Passou próximo à cerca, depois pelo meio dos campos, e nada. Os únicos sinais que encontrou realmente foram aqueles. Não havia outros em nenhum recanto. Resolveu fazer uma contagem das cabeças de gado. Seria uma contagem superficial, só para tirar a dúvida que pairava em sua cabeça... não gostaria de descobrir que estava faltando gado no pasto, novamente...
O sol estava se escondendo na linha do horizonte quando Juca chegou à porta de Zacarias. Dava prá notar que o rapaz estava deveras preocupado. Não encontrou nada de anormal, a contagem do gado não acusou a falta de nenhuma rês... mas aquela marcas não saíam de sua cabeça... o que diabos seria aquilo? Tinha que conversar com alguém, e a única pessoa com quem poderia fazer isso era seu chefe e mentor... afinal, tudo aquilo que Juca conhecia do campo lhe havia sido ensinado por Zacarias. O rapaz o considerava quase como um pai. Sempre que tinha dúvidas sobre alguma coisa, ia direto ao "velho" como carinhosamente o chamava. Sim, nesse momento a dúvida realmente o perseguia... queria entender que diabos era aquilo lá nos pastos.... não era cavalo, cachorro, muito menos boi... se pudesse arriscar um palpite, diria que era rastro humano misturado com cachorro... mas como isso poderia acontecer?
- O que aconteceu, Juca?
- Nada, patrão... só uma coisa que não consegui entender...
- E o que foi?
- Não adianta falar... eu precisava mostrar pro senhor...
- Onde, menino?
- No pasto norte...
- A essa hora? Até chegar lá já é noite fechada...
- Não, agora não... melhor amanhã cedo...
- Tá certo... apeia, menino. Vem comer com a gente...
- Não incomodo?
- De jeito nenhum... e como você parece realmente preocupado, dorme aqui em casa, hoje... amanhã a gente vai ver esses pastos...
- Agradecido, seu Zacarias...
E o rapaz desmontou, e entrou na casa conversando com seu amigo... falaram sobre amenidades, coisas do dia a dia, o rapaz perguntou como estava o ombro de seu parceiro... e finalmente chegou onde realmente queria chegar... as estranhas marcas que havia notado no campo. Zacarias apenas respondeu que não havia motivos para preocupação. Nada de grave havia acontecido no campo e nenhuma rês sumiria... não em decorrência dos rastros que o rapaz localizara. Este ficou sem entender, mas como Zacarias parecia saber do que estava falando resolveu simplesmente aceitar. Para sossegá-lo, Zacarias confirmou que de manhã os dois iriam verificar os tais sinais...
Não dá para dizer que a noite de Juca foi tranquila. Passou a noite toda variando e, embora tenha dormido, a sensação que tinha é que não pregara os olhos a noite toda. Finalmente amanheceu ... quer dizer, a noite ainda estava alta, eram quatro horas da manhã... e lá foram os dois em direção aos pastos, para que o rapaz respirasse aliviado finalmente. Depois mais ou menos uma hora de cavalgada, finalmente chegaram no local onde o rapaz havia notado os sinais no solo. Os dois apearam e começaram a examinar o terreno. Quando avistou o primeiro rastro, Zacarias riu....Juca não entendeu muito bem o riso do amigo, e ficou a olhar para o mesmo, com uma pergunta não formulada estampada em seu rosto. Depois de algum tempo rindo, Zacarias resolveu se explicar...
- É como eu te disse, menino... não tem que se preocupar com estes rastros... é só um lobisomem...
Juca quase deu um salto para trás ao ouvir isso da boca do amigo. Um lobisomem... como assim? E como assim... não se preocupar? É claro que isso o deixava preocupado...
- Eu sei que você está com medo, rapaz... mas de todos os bichos encantados, um que não nos oferece perigo algum é justamente o lobisomem... é claro que isso tem muito a ver com a índole do possuído... mas, no geral, não é nada perto de outros seres fantásticos...
- Não estou entendendo...
- Diferente da bruxa, que tem quase que a mesma origem, o lobisomem é inofensivo para os seres humanos. Ele não nos ataca nem nos faz mal.... tampouco ataca os animais... eu diria que ele é o terror dos galinheiros, mas não das galinhas, em geral...
- Não entendi...
- Deixa prá lá... algumas coisas, é melhor não entender, mesmo. Tudo o que você precisa saber é que não tem nada do que temer...
E assim Zacarias encerrou a conversa. Não dá para dizer que seu pupilo ficou aliviado com a história do lobisomem, mas já que o chefe garantia que não tinha do que ter medo, o negócio era acreditar... bem, desde que não cruzasse seu caminho, não tinha por que temer, não é? Se bem que agora que sabia que havia um bicho fantástico caminhando entre eles fazia Juca repensar em suas andanças pelo campo à noite, principalmente quando houvesse lua cheia....
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