WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS Capítulo Cinquenta e Dois


WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS

Capítulo Cinquenta e Dois

 

- Meninas, precisamos conversar....

- O que foi, Izabel?

- Essa situação que estamos vivendo...

- Você diz... a caça ao Anhangá?

- Sim, Graça... acho que está na hora de nós agirmos...

- Izabel... lembra do que a Yara falou para nós?

- Sim, Rosa... claro que me lembro...

- Então... nesse caso você sabe que não podemos fazer nada... somente em ultimo caso poderemos reagir...

- Esse é o problema, Rosa... e a Graça vai concordar comigo...

- Não sei se concordo contigo, não... a Yara foi bem clara quanto às suas instruções...

- Graça, a gente nunca fugiu da luta...

- E não estamos fugindo... mas nosso papel nessa história é apenas de observadoras...

- Os meus dedos estão coçando, meninas...

- Eu sei que você quer atirar em alguma coisa...mas sabe que não pode... está proibida de fazer isso.

Sim, Izabel se lembrava bem das instruções da Yara... nem ela, nem suas parceiras deveriam tomar a frente naquela caçada a um elemental da terra. Ele seria confrontado, sim. Mas não por elas.

- Gente, nós sabemos até os prováveis locais em que o monstro vai aparecer...

- Eu sei... mas não podemos dizer uma palavra sobre isso... para ninguém...

- A magia  das cunhatãs era poderosa... nos fez lembrar de tudo o que passamos no reino da Yara...

- Seria melhor continuarmos em estado dormente... ao menos não nos sentiríamos tão inúteis quanto estou me sentindo nesse momento...

- Eu te entendo, Izabel... juro que te entendo.

- Mas...?

- Mas nossas ordens são bem claras quanto a isso...

- Aquele ser que encontramos era realmente um vampiro?

- Com toda a certeza... e trazia alguns comensais junto...

- Para que?

- ?! Não entendi a pergunta....

- Para que ele trazia esses... comensais?...

- Olha, eu não faço ideia... mas estavam grudados no corpo dele como se fossem penas...

- Quer dizer que eles são " a roupa" do vampiro...

- Acho que a gente pode dizer que sim...

- Meninas, acho que vocês estão enganadas...

- Como assim, Rosa?

- A Yara falou alguma coisa sobre esses seres... e não me lembro exatamente o que, mas aqueles bichos exercem uma função muito específica para o vampiro...

- E que função é essa?

- Aí é que está... não consigo me lembrar... mas sei que é importante.... 

As três moças ficaram algum tempo em silêncio, pensativas. Graça levantou-se da cama, onde estava sentada, chamando as amigas...

- Vamos sair um pouco... é hora de tomar sol...

E lá foram as três, em direção à praça da cidade. Enquanto caminhavam, brincando descontraidamente, cruzaram o caminho de Torquato. O ajudante do delegado estava apressado, pois dormira mais do que esperava e agora tentava chegar o mais rápido que podia para substituir o chefe. Não sabia que Juvêncio já o havia liberado...

Alguns minutos depois o rapaz chegou na porta da delegacia. A moças resolveram entrar também. Afinal, se havia algum lugar em que poderia se inteirar das novidades, com certeza era ali. Logo que entraram, deram de cara com Marieta, que conversava com doutor Carneiro e Juvêncio. Os três tentavam entender a dinâmica do estranho vampiro que iriam enfrentar...

Estranharam o fato de as janelas estarem fechadas, e o ambiente iluminado por um lampião... até que viram o vidro com o gastrópoda e então entenderam o que ocorria. De imediato perceberam que, se abrissem a janela e os raio de sol entrassem no recinto, o animal se desintegraria...

Carneiro estava tão excitado que, embora não tivesse dormido um minuto sequer durante toda a manhã, continuava desperto como se tivesse acabado de acordar. 

Torquato, quando entrou, perguntou pelo delegado Santana. Foi informado que o mesmo já tinha ido descansar, e que ele poderia relaxar... estava tudo tranquilo até aquele momento. Perguntou se houve alguma morte durante a noite e suspirou de alívio ao saber que nada de anormal ocorrera durante sua patrulha. Isso significava que havia apenas um ser sobrenatural atacando a comunidade....  

- Doutor...

- O que foi, menina?

- Meu nome é Izabel, doutor...

- Desculpe... é que ainda não aprendi o nome de vocês...

- Tudo bem... posso fazer uma pergunta?

- Claro...

- Qual a relação desses bichos com aquele ser que encontramos?

- Além de cobrir o corpo dele?

- Isso...

- Ainda não sei... acredito que servem como proteção...

- Como assim?

- Bem, o delegado disse que esse tipo de monstro não suporta a luz do dia...

- E...?

- E, talvez... eu digo talvez... eles sejam o equivalente ao pelo dos animais... 

- Como assim...

- Bom... vamos dizer que aquele ser seja surpreendido pelo raiar do dia antes de conseguir escapar para sua toca...

- O que aconteceria?

- Creio que esses moluscos seriam consumidos antes de atingi-lo... lhe dando tempo para se proteger em algum lugar...

- E isso seria possível? 

- Depende de quão alimentados estiverem...

- Como assim?

- A gente fez algumas experiências com esse bicho...

- E...?

- Acho melhor te mostrar...

Doutor Carneiro faz um pequeno corte em seu dedo e deixa escorrer dentro do recipiente uma quantidade razoável de sangue. No mesmo instante a lesma o absorve. O doutor faz um curativo. Depois, apagam o lampião e abrem todas as janelas do recinto. Os raios solares banham o vidro. A pequena criatura começa a se contorcer, tentando escapar da luz... mas não tem para onde fugir. E, depois de algum tempo, começa, lentamente, a queimar. Depois de alguns minutos, desaparece completamente, sobrando apenas um pouco de fuligem no fundo do vidro. Todos ficam estupefatos. 

- Como deu para perceber, quando avistamos a fera, seu corpo é completamente coberto por essas criaturas. E vocês notaram que leva um certo tempo para essa lesma ser consumida pela luz... então o monstro teria tempo de se esconder da luz diurna em algum buraco perdido por essas montanhas...

- E a perda da proteção deve ser bem baixa... como a gente viu, o Lagartão é bem rápido...

- Sim, delegado... o dinossauro é mais rápido que nossos corcéis...

- Temos que descobrir onde é seu covil... acho que é a única maneira de conseguir surpreende-lo...

- E como a gente vai fazer isso, delegado?

- Não sei, ainda... mas até a noite com certeza terei alguma ideia...

- E  o que faremos agora?

- Sugiro a todo mundo que descanse um pouco... pois a noite será longa...

Juvêncio levantou-se da cadeira em que estava sentado, despejou álcool no vidro e ateou fogo. Logo toda a fuligem que se encontrava no fundo do recipiente desapareceu completamente, e o vidro ficou limpo de qualquer tipo de impureza...

- Pessoal, acabou a brincadeira. Agora, só quando a noite chegar é que voltaremos a nos divertir...

E todos, com exceção daqueles que precisavam continuar em serviço, saíram para se preparar para a caçada que se avizinhava....


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