WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS Capítulo Quarenta e Cinco
WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS
Capítulo Quarenta e Cinco
Três dias se passaram desde que Juvêncio e Torquato
armaram seu acampamento próximo da cachoeira. Se não havia sinal das garotas,
pelo menos o Jurupari também não deu o ar de sua graça pelos arredores. Nesses
três dias os dois companheiros ficaram pescando e colhendo frutos que havia
próximo do local... nada de caça de qualquer porte... o motivo era um só... não
atrair a atenção dos bichões que, com certeza, caminhavam por ali... no
entardecer do terceiro dia, quando o sol já estava se pondo no horizonte,
Juvêncio notou três corpos boiando no rio. Tratou de se atirar na água e
resgatar os corpos... eram as garotas, desfalecidas.
Com a ajuda de Torquato, içou as meninas até a margem do
rio. Estavam molhadas até a alma, como se costuma dizer... colocaram-nas
próximo ao fogo, para secarem as roupas e se esquentarem.
Aos poucos as moças foram acordando. Quando
interrogadas sobre o que acontecera, o máximo que conseguiam era
balbuciar que não faziam ideia do que estava acontecendo.
Enquanto elas se recobravam, Juvêncio resolveu fazer
um churrasco com o resto do charque que sobrara. Quando as moças estavam
prontas, sentaram-se ao lado dos dois rapazes e partilharam a refeição.
Depois de comerem e descansarem um pouco, Juvêncio
resolveu fazer a pergunta que estava lhe incomodando...exatamente o que teria
acontecido com elas, durante o tempo em que estiveram desaparecidas? As moças o
olharam, surpresas... não tinham a menor ideia do que ocorrera...
Vendo que as moças não sabiam o que falar, resolveu
deixar o assunto para mais tarde. Com certeza, quando chegasse a hora
elas se manifestariam... deveriam estar sob algum encantamento, e ele com
certeza se quebraria na hora certa.
Depois de comerem e descansarem mais um pouco, era
hora de voltar para a cidade. Selaram seus animais, verificaram se tudo estava
correto e partiram em direção à cidade. A noite já estava fechada, por assim
dizer, e o bom senso recomendava não saírem a campo daquela forma. Mas seguiram
em frente assim mesmo.
Nenhum incidente ocorreu durante o trajeto que
fizeram. Depois de algum tempo, finalmente avistaram a cidade. Bem, a
menos que acordassem a dona da pensão onde estavam hospedados, teriam que
dormir na estrebaria... considerando o adiantado da hora, resolveram optar por
essa solução...
Logo que os primeiros raios de sol apareceram no
horizonte, Juvêncio e sua turma se dirigiram para a delegacia. Santana levou um
susto ao ver aquela turma, que já considerava estar no outro mundo,
apresentar-se a sua frente. Quando Juvêncio e sua turma chegaram, Santana
estava a um quarteirão da delegacia. Com um olhar de assombro abriu a porta,
permitindo a entrada de todos. Estava curioso, queria saber o que tinha
ocorrido...
- Acredito que não preciso perguntar, não é mesmo?
- Sobre?...
- O que aconteceu com vocês... e como voltaram...
ilesos...
- Na verdade, não foi fácil. Avistamos o Lagartão
perto da serra da Mãe D'água...
- E ele não pegou vocês?
- Estranho, não é mesmo? Mas, não... ele não nos
encontrou...
- Engraçado... ele está fazendo um estrago dos
infernos nas redondezas...
- Já apareceu algum morto?
- Está brincando, não é? Seja lá o que for, está
fazendo uma carnificina na região...
- Está tão ruim assim?
- O dia que tem menos mortos, tem três, quatro...
- Está brincando...
- Bem que eu queria... só na primeira noite, foram
treze vítimas...
- E...?
- Como sempre, nenhuma pista...
- Mas alguma coisa deve ter...
- Olha, o doutor tem certeza de que o lagartão é o responsável
pelas mortes...
- Mas...?
- Mas ele não consegue explicar a falta de sangue nas
vítimas e nos locais do ataque... deveria haver respingos... mas não há nada.
Juvêncio fica pensativo por alguns momentos. Olha para
as moças, mas fica desanimado ao ver que as mesmas não esboçam nenhuma
reação... ainda estão em um estado de estase, e parece que o mundo real
está longe de seus pensamentos...
Não demora muito e as notícias de novos ataques chegam
à delegacia. De pronto Juvêncio resolve partir para um dos locais do ataque,
junto com a sua equipe. "Quem sabe", pensa ele, "se no local dos
fatos as meninas não acordam"...
Depois de uma meia hora de cavalgada, Juvêncio e sua
turma chegam ao seu destino. No local, dois corpos. Como os outros, sem uma só
gota de sangue, nem nos corpos, nem nos arredores. Isso intriga o Justiceiro.
Ele resolve examinar os corpos mais de perto. Percebe que, junto ao corte no
pescoço, há uma substancia esbranquiçada, parecendo cera de abelha... ou sebo
de carneiro. Bem, era uma substancia gordurosa....
Tomando cuidado para não destruir nenhuma evidência,
Juvêncio começou a examinar o solo em volta do corpo... e os resquícios daquele
material engordurado ainda permaneciam no solo... mas com o calor do sol, que
estava subindo aos céus, iam pouco a pouco desaparecendo...
Quando Juvêncio resolveu manipular um dos corpos,
Izabel fez-lhe sinal para não se mover. Intrigado, parou no ato. Do corte no
pescoço da vítima saiu algo parecido com uma lesma, mas de dimensões
gigantescas. O estranho animal misturou-se ao solo e simplesmente sumiu.
Juvêncio ficou sem ação. Era a primeira vez que via tal ser em sua vida.
E, pelo jeito, a dieta daquele bicho era... sangue!
Uma sanguessuga? Não dava para acreditar. Mesmo
porque, embora o tamanho do animal fosse desproporcional, não justificava a
drenagem total dos fluidos sanguíneos das vítimas. Juvêncio ficou
realmente encafifado com aquilo. Mas, pelo menos tinha uma pista a mais do que
tinha quando chegou na cidade...
Resolveu examinar o outro cadáver. Nada. Estava limpo.
Nenhum sinal da substância gordurosa que encontrara no primeiro. E quando foi
examinar uma segunda vez a primeira vítima, percebeu que não havia mais nenhum
sinal da substância sobre o corte. O mistério só aumentava... Não era possível
que aqueles vermes (seriam vermes?) estivessem presos ao lagartão... afinal, se
ele tinha sangue frio, a ultima coisa que deixaria aderir em sua pele escamosa
seria uma criatura gelatinosa, como a que Juvêncio encontrou ali...
Resolveu acompanhar os corpos até o necrotério. Iria
pedir para o doutor examinar os cadáveres, a procura de qualquer indicio que
pudesse... se conseguisse localizar algum traço de gordura nos cortes, por
menor que fosse, já teria alguma coisa com o que trabalhar...
Uma meia hora depois já estavam nas portas do
necrotério. O doutor estava com um ar abatido. Também, pudera... já a uma
semana que trabalhava exaustivamente, tentando determinar, sem sucesso, a causa
real da morte das vítimas. Claro que o fato de terem a cabeça quase decepada
era o motivo principal de seu passamento, mas devia ter alguma coisa a mais que
estava lhe escapando. Mas agora, com a descoberta de Juvêncio, talvez ele
pudesse ter uma ideia mais clara do que estava acontecendo...
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