WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS Capítulo Quarenta e Sete
WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS
Capítulo Quarenta e Sete
- Seu Juvêncio...
- Pode falar, Torquato...
- Aqui, não... acho melhor a gente ir lá fora...
E Juvêncio acompanhou Torquato até o lado de fora do
necrotério... caminharam um pouco, e quando já estavam a uma certa distância, o
mestiço resolveu falar.
- Seu Juvêncio, acho que a gente devia levar as moças
até o pajé...
- Por que, Torquato?
- E eu preciso dizer? As moças estão enfeitiçadas,
delegado...
- E você acha que...
- O pajé pode tentar desfazer o encanto...
- E se ele não conseguir?...
- Bem, pelo menos a gente tentou... mas eu acho que o
pajé pode dar um jeito... afinal, parece ser feitiço das águas...
- Não entendi...
- Bem... a magia é ligada aos elementos da natureza...
Terra, Ar, Fogo e Água... e normalmente cada pajé é versado em um desses
elementos...
- Nos quatro, não?
- Até existe, mas é raro... não é fácil para o
pajé receber os dons da natureza de um elemento...
- E o de vocês...
- Conhece as magias da Mãe D'água... por isso, ele
pode ... eu acho... quebrar o encanto das três...
- Bem, a gente não perde nada em tentar. Vamos
levá-las a aldeia, então...
Juvêncio e seu companheiro retornam ao recinto,
conversam com os presentes. Santana ouve com atenção o que lhe é exposto.
Carneiro se limita, junto com Marieta, a ouvir sem dar opinião. Afinal, mesmo
tendo presenciado várias manifestações sobrenaturais, até para manter a
sobriedade, preferiam ignorá-las. Ficou definido que no dia seguinte os cinco
iriam até a aldeia. Talvez você se pergunte porque resolveram ir no dia
seguinte e não no mesmo... É que haveria mudança de lua... de minguante para
nascente. E, segundo Torquato, seria o melhor momento para o pajé tentar
quebrar a magia...
Como não tinha mais nada para fazer naquele dia,
Juvêncio resolveu visitar Dona Matilde e contar-lhe as novidades... quem sabe
se isso não a ajudaria a lembrar-se de qualquer coisa que servisse de
norte para a caçada que iria se iniciar? Era um tiro no escuro, mas de repente
a professora poderia dar certo.
Dona Matilde ficou muito feliz com a visita do
delegado. Apesar de ser bem mais jovem que ele... ou talvez até por isso
mesmo... ela sentia-se atraída por seu porte atlético. E sua maneira de
vestir-se... sempre de preto... tornava-o ainda mais elegante, aos olhos da
moça. Como estava um dia tranquilo, ela deixou o controle da escola nas mãos de
sua vice e saiu com o delegado, que a convidou para tomar um refresco, enquanto
conversavam.
Enquanto saboreavam uma torta de maçã recém assada,
acompanhada de um refresco de laranja... o refresco preferido da professora...
conversavam sobre amenidades. Não parecia muito correto falar de morte enquanto
faziam um lanche, não é mesmo? Assim como a professora sentia-se atraída por
Juvêncio, a recíproca era verdadeira. Já fazia um bom tempo que o velho lobo
estava solitário, e Matilde era uma garota realmente formidável.
Depois de terminarem seu lanche, os dois saíram em
direção à praça. Como estava um dia quente, Juvêncio preferiu ficar em um local
aberto, onde a brisa amainava um pouco o calor. De certa forma Matilde lembrava
um pouco a Rosinha, primeira paixão do delegado. Era meiga, faceira... a
diferença era que tinha um ar mais austero, quando necessário....
Depois de algum tempo falando sobre amenidades, nosso
amigo entrou no assunto que realmente lhe interessava... contou para a moça
sobre suas descobertas e perguntou-lhe se isso teria alguma relação com as
histórias que a moça ouvira. Matilde ouvia fascinada sobre as descobertas do
delegado e, quando indagada se sabia de alguma coisa pelas histórias que
ouvira, balançou a cabeça, em sinal de negação. Mas, de repente, uma luz
acendeu-se em sua mente...
- Delegado, acho que li... ou ouvi... alguma coisa
sobre o assunto, sim... não tenho certeza, mas...
- O que a senhorita ouviu?
- Bem, se não me engano, parece que um pajé... a muito
tempo atrás... teve um encontro com um ser estranho... era mais alto que os
normais... e seu corpo era coberto por algumas plumas brancas... essas plumas
pareciam gelatinosas, transparentes... é claro que não dizia
"gelatinosas", na descrição que eu li... ou ouvi...
- Mas, e o lagarto? Ouviu alguma coisa sobre ele?
- É como seu amigo índio diz... era a montaria desse
ser estranho...
- E esse bicho deixava os vermes ficarem em cima dele?
- Como eu disse, eles cobriam o ser misterioso...
- Entendi...
- Talvez eles sejam... sei lá...
- Parasitas?
- Bom, isso eles são, com certeza... mas...
- Mas?...
- Bem, eles são simbiontes... dependem do hospedeiro
para viver.
- Isso quer dizer que os seres que eu vi morreram?
- Bem, talvez... mas não posso afirmar com
certeza...
- Então quer dizer que, seja lá quem ou o que
for o responsável pelas mortes, tem um parasita vivendo sobre sua pele...
- Na verdade, uma colônia de parasitas...
- E isso quer dizer?..
- Não faço ideia. Mas de qualquer forma, deve ser um
ser bem estranho...
- Eu esperava qualquer coisa... mas um vampiro
"empenado"...
- Como é a aparência do verme que o senhor encontrou?
- Parece uma lesma... só que um pouco maior... e é
quase transparente...
- Tinha algum cheiro?
- Na verdade, não... era completamente sem cheiro..
- Então a função desse simbionte talvez seja
justamente essa... limpar as impurezas que seu hospedeiro deixa pelo caminho...
mais ou menos como os abutres...
- Então eles seriam benéficos para a natureza, é isso
que você está dizendo...
- De certa forma... afinal, eles limpam a sujeira que
ficou para trás...
Juvêncio ficou calado, pensativo. Estava aí algo que
ele não tinha pensado antes...
- Sabe que agora fiquei curiosa sobre esse
bichinho?
- Que bichinho?
- Essa tal lesma que o senhor mencionou... eu bem que
gostaria de ver uma...
- Segundo o doutor, elas seriam perigosas, pois sua
constituição seria basicamente de ácido...
- Bem, nós mesmo temos vários ácidos em nosso corpo...
eles tem muitas funções necessárias para o correto funcionamento de nosso
organismo....
- Sim, mas esses... bichinhos, como a senhorita
falou... tem ácido em toda a sua constituição.
E assim, os dois continuaram conversando, a professora
explicando os prós e contras das lesmas que serviriam de cobertura para o ser
que estava aterrorizando a região. Juvêncio a interrompia de vez em quando,
tentando esclarecer uma dúvida que surgia, tentando visualizar os fatos novos
que ela apresentava.... no final, concordava com tudo que Matilde falava, não
por achar que estava certa, mas por não ter argumento para contradizê-la.
Quando os dois se deram conta, a noite já se
aproximava. Continuaram conversando ali na praça por mais algum tempo, agora
sobre banalidades, assunto nenhum... na verdade, o que queriam, o que realmente
desejavam, era ficar um ao lado do outro...
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