WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS Capítulo Quarenta
WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS
Capítulo Quarenta
- Isso é impossível, meu amigo!
- Eu juro, Doutor Carneiro...eu vi a fera... com esses
olhos que a terra um dia há de comer...
- Não tenho porque duvidar de você, Delegado... o problema
é que esses bichões a muito que desapareceram da terra...
- Eu sei o que vi... e era um daqueles dimo ...
damo...
- Dinossauro... sim, pela sua descrição eu diria que é
um dino... o problema é que eles foram extintos a séculos...
- Para um bicho que morreu a tanto tempo aquele que eu
encontrei estava bem de saúde...
- Você mesmo disse que não achou nem sinal das pegadas
da fera....
- Sim, isso mesmo... mas eu sei bem o que eu vi.
Estava a menos de vinte metros do bicho...
Apesar do ceticismo, Doutor Carneiro não conseguia
disfarçar sua euforia... afinal, se Juvêncio estivesse certo e o animal
avistado por ele fosse realmente um sáurio, seria a sua glória. Tinha que dar
um jeito de, confirmada a visão do delegado, capturar a fera viva... para expô-la
para a comunidade científica. Ele ficaria famoso com tal achado... Mas primeiro
era necessário encontrar o animal...
- Tem uma coisa que me intriga, doutor...
- O que, meu amigo?
- Se esse lagartão for o responsável pelas mortes...
- O que é que tem?
- Bom, ele não me pareceu ser um bebedor de sangue...
- E?...
- E é isso, doutor... eu acho que o bichão é a...
ferramenta... utilizada para as mortes em questão... mas...
- Mas...?
- Mas isso não explica os cadáveres completamente sem
sangue, doutor!
Carneiro tinha que concordar com Juvêncio. Mesmo que o
bicho fosse real... e o bom doutor ainda não estava convencido disso... havia o
problema de encontrarem os corpos com seu precioso líquido totalmente
drenados... e até onde o doutor sabia, os sáurios não bebiam sangue... ou seja,
mesmo que se confirmasse a existência do dino, o mistério perdurava....
- Tem mais uma coisa que me preocupa...
- O que, delegado?
- Não consegui encontrar as três moças pelos
arredores...
- Com certeza, devem estar bem...
- Gostaria de compartilhar de sua confiança, doutor...
- Olha, pelo que você disse, elas não são novatas
nesse tipo de coisa...
- Doutor, todo mundo é novato frente ao
desconhecido...
- Certo, certo... o que eu quis dizer é que as três
tem jogo de cintura para se safarem em caso de perigo...
- Espero que o senhor esteja certo...
O doutor não estava tão otimista quanto fazia parecer
ao Juvêncio. Pelo que o Delegado dissera, as três estavam perdidas em uma
floresta onde um animal pré-histórico caminhava livremente. Não era o melhor
dos cenários.Mas tinha uma coisa que o doutor, assim como o delegado, não
conseguia entender... se o animal era realmente um sáurio, deveria ter sangue
frio. Portanto, sua hora de caçar seria durante o dia, não à noite. E todos os
ataques, pelo que se percebeu até o momento, ocorreram quase de madrugada,
justamente quando a temperatura costuma cair mais que o esperado... sim, o
delegado estava certo... as contas não batiam.
Juvêncio ficou pensando se não era melhor continuar
com sua linha antiga de investigação... procurar estudar as lendas da região.
De repente poderia encontrar a chave para o mistério... caramba, esse caso
tinha mais chaves que um castelo encantado... o problema é que até agora ele
não conseguia entender o que se passava ao seu redor.
No começo tudo parecia um caso de vingança de uma raça
oprimida contra o que seria a raça opressora. No final das contas, essa linha
de argumento caiu por terra. Porque? Ora, se esse tipo de ataque vinha de um
tempo mais distante que a própria fundação do povoado... a fundação da
cidade... não poderia ser a vingança de um feiticeiro em ação....
Ficavam as histórias contadas pelo povos originários
da região... Anhangá, Jurupari... bem, pelo menos tinha alguma coisa para
trabalhar... pena que ele não podia interrogar uma lenda... ou podia?
Lhe restava a opção de continuar ouvindo as histórias
dos moradores da cidade... as historias de sempre...traição conjugal, disputa
de terras... sim, motivos para alguém desejar se vingar havia, e muitos... O problema
era descobrir a quem interessava espalhar o terror e o medo pela
região...
Sim, Juvêncio estava realmente preocupado. Afinal,
embora tivesse, a principio, imaginado que com a chegada das moças na cidade as
coisas ficariam mais simples, pegou-se agora preocupado com o destino delas.
Bem, já era noite e o bom senso recomendava ficar quieto em seu canto até
o amanhecer... quando o dia clareasse, voltaria a bater as pistas de Izabel e
Companhia...
Juvêncio resolveu conversar com Torquato e Santana.
Não iria acrescentar nada em sua história, mas era sempre bom ouvir a opinião
de outras pessoas. E de repente Torquato poderia ter alguma ideia salvadora
para o problema que Juvêncio não conseguia ver...
Os dois ainda estavam no gabinete de Santana. Juvêncio
os cumprimentou, já os convidando para acompanhá-lo no jantar... convite aceito
de imediato. E lá foram os três em direção à pensão... iam conversando sobre as
amenidades do dia a dia. Juvêncio resolveu que só falaria sobre sua incursão
pela campina durante o jantar...
Quando estavam já a mesa, esperando ser servidos,
Juvêncio resolveu iniciar a conversa que realmente o interessava...
- Santana, posso te fazer uma pergunta?
- Claro, doutor... a vontade...
- Primeiro, vamos deixar esse negócio de "doutor"
de lado...
- Certo... o que queria perguntar?
- O senhor conhece bem a fauna da região, creio eu...
- Com certeza... em meus momentos de folga gosto muito
de caçar... e posso te dizer quais os tipos de caça se encontra por aqui...
- Eu acredito... lagartos, tem muitos por aqui?
- Com certeza... e alguns bem grandes...
Juvêncio se animou...
- Grandes quanto?
- Já peguei lagarto com até três quilos... meu amigo,
que carne boa esses bichos tem...
O ânimo inicial se dissipou...
- Não, não... estou falando de um lagarto um pouco
maior...
- Maior, quanto?
- Com uns dois metros de altura?
- Dois metros de altura?! Que raio de lagarto é
esse?
- E com pés parecidos com o das aves...
Santana e Torquato deram risada...
- Por acaso esse... lagarto... tem bico, também?
- Estou falando sério, Santana. Você nunca viu nenhum
bicho assim?
- Não. É sério. Pensa bem... se tivesse um lagarto
desse tamanho por aqui, todo mundo já o teria visto...
- Bom, eu não sei o que dizer... eu vi um desses
bichos hoje.
Torquato e Santana quase pularam da cadeira...
- Jurupari!
- Não sei se era o Jurupari, Torquato. Eu sei que o
vi, a pouco mais de vinte metros de distancia de mim...
- Onde você viu isso?
- Sabe a Serra da Mãe D'água?
- Sim, claro...
- Foi lá perto...
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