WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS Capítulo Quarenta e Quatro



WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS

Capítulo Quarenta e Quatro



Juvêncio estava um tanto desconcertado... depois de caminharem tanto, terminaram em um beco sem saída...  depois de caminharem por horas pela pradaria... que não deveria existir, já que estavam no seio da terra... encontraram uma sequência de túneis e depois de muito procurar, descobriram algumas pegadas em um dos acessos e entraram no mesmo. E, ao chegarem do outro lado... nada, simplesmente nada havia a sua frente... só o vazio. Ao final da caminhada pelo túnel escolhido, por pouco os dois não caíram no abismo... pois a trilha que seguiam terminava abruptamente ...

Por sorte o fim da trilha deu-se em um local iluminado e os dois perceberam o perigo a tempo. Um passo a mais que dessem... entre eles e o outro lado do abismo que encontraram havia uns dois metros de distancia, mais ou menos. E o campo cheio de árvores se iniciava a poucos metros da beira do precipício. Juvêncio mediu mais ou menos e calculou que  a árvore mais próxima estava a um metro a mais do abismo ao qual quase caíram.

- Torquato, quantos metros tem o seu laço? 

- Dois metro e meio, três... por quê?

- Dois metros e meio... o meu tem mais ou menos isso... vai dar certo....

- O que é que vai dar certo, Juvêncio?

- Precisamos atravessar para o outro lado. Amarrando os dois laços, teremos corda suficiente para isso...

- Se o senhor não se importa, prefiro voltar  por onde viemos...

- Não tem como, Torquato...

- Como assim? É só a gente refazer o caminho...

- Não sei se você reparou, mas o caminho atrás de nós está se desmoronando. Devagar, mas está. E, se não dermos um jeito de passar para o outro lado, vamos para o precipício de qualquer jeito...

Torquato olhou para trás e, horrorizado, confirmou o que seu parceiro acabou de falar. Sem mais delongas, passou seu laço para o companheiro, que tratou de amarrar ao outro, aumentando assim o alcance do mesmo. Uma laçada certeira, e Juvêncio pegou a árvore, como planejara. Testou a corda, para ver se estava bem firme e tratou de amarra-la em uma saliência dentro do túnel. Completo o trabalho, pediu para que Torquato iniciasse a travessia. Apavorado, o mestiço começou a atravessar. Depois de alguns minutos colocava os pés, são e salvo, do outro lado.

Chegou a vez de Juvêncio. E ele ficou indeciso por alguns instantes, sem saber exatamente o que faria, uma vez que o desmoronamento estava já bem próximo de onde estava. Se tentasse atravessar da mesma forma que Torquato, corria o risco de acabar nas profundezas do abismo que estava cada vez mais próximo de onde se encontrava...

Decidido, soltou o laço da saliência onde o havia prendido, e jogou-se abismo adentro. Foi na hora certa, pois um segundo que hesitasse e acabaria naquele buraco sem fundo...

Devagar, já sem pressa, Juvêncio conseguiu subir até a borda da planície. Tudo parecia calmo, agora. Exceto pelo vazio as suas costas. Torquato continuava nervoso, pois não conseguia compreender o que estava acontecendo...

- Tudo bem com você, Torquato?

- O que... o que está acontecendo?

- Estamos sendo testados, Torquato?

- Testados? Por que?

-Talvez queiram saber se somo dignos de encontrar as três moças...

- Jurupari... e Anhangá....    

- Não sei dizer se são eles... tudo que posso afirmar é que há uma entidade mística muito poderosa atrás desses... acontecimentos!   

- É o Anhangá, com certeza! Quem mais iria querer nos deter dessa maneira?

- Mas aí é que está, Torquato... a entidade, na verdade, não queria nos parar...

- Não?!

- Não... na verdade, fomos conduzidos até aqui como a gente costuma conduzir o gado pela campina...

- Não estou entendendo..

- Se essa entidade quisesse realmente acabar conosco, teria feito bem lá no começo... por isso é que estou te dizendo... seja lá o que for que está se manifestando aqui, está nos testando desde o começo...    

- Então a gente não estava correndo risco de vida de verdade?

- Eu não disse isso. 

- Então...

- Sim Torquato.... se a gente falhasse em algum momento, com certeza estaríamos mortos a essa altura...

E os dois se calaram, embrenhando-se pela mata que se descortinava a sua frente. Sabiam que, não importava quem estava à sua frente, logo ficariam cara a cara...

Pouco a pouco a paisagem a sua volta foi se modificando. E o céu cheio de nuvens foi se transformando em uma abóbada dourada... as árvores ao seu lado tomaram forma de paredes, e o chão onde pisavam brilhava como se mil estrelas lhe emprestassem a luz....

Os dois parceiros detiveram sua caminhada. Não importava onde se encontravam, estavam diante do ente responsável por aquela caminhada. Que ainda estava invisível para seus olhos. 

Juvêncio resolveu convocar a entidade mística que os estava manobrando. Depois de algumas orações, finalmente uma figura azulada foi se formando a sua frente. E essa luz transformou-se em uma linda moça...

- Quem ousa invadir meus domínios?!

- Desculpe, moça... Estamos aqui à procura de três amigas que desapareceram a três dias atrás...

- E vieram procurar justo aqui...

- Sim... foi para cá que elas seguiram seu destino.

- Já percebeu que vocês caminham por onde determino...

- Sim, reparei isso... inclusive notei que estivemos andando em círculos em todo esse tempo...

- Muito esperto... e como descobriu?

- Só direi se me contar onde estão as três moças...

- Bem, elas tem uma missão a cumprir... e nesse momento estão sendo capacitadas para fazer isso.

- Posso vê-las?

- Claro que não. Você sabe que elas não podem ser distraídas por enquanto...

- Olha, eu não quero atrapalhar... somente vê-las...

- Sinto muito... só depois que o treinamento acabar...

Dito isso, a entidade desapareceu da frente dos dois companheiros... e o castelo foi se desfazendo aos poucos, trazendo novamente a campina verdejante onde a poucos instantes os dois caminhavam. Juvêncio pôs a mão no ombro do parceiro, para que o mesmo interrompesse a caminhada. Torquato olhou para ele, sem entender. Então, Juvêncio lhe disse...

- Amigo, voltamos ao ponto de partida...

De fato, eles estavam a poucos metros do local onde haviam amarrado seus cavalos. A cachoeira esta a frente. No chão, nenhuma marca que indicasse que alguém havia passado por ali...

- Quer apostar que, se formos olhar a cachoeira, não encontraremos passagem alguma?

Torquato se persignou, enquanto balançava a cabeça negativamente. Seu desejo era desaparecer daquele local, mas sua honra não lhe permitia... e assim, ficou ao lado de Juvêncio, na expectativa de as moças retornarem logo... além disso, havia o Jurupari e o Caçador à solta... melhor ficar ao lado do Delegado... era mais seguro... 


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