WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS Capítulo Quarenta e Três
WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS
Capítulo Quarenta e Três
Santana estava arrasado. A previsão do dia anterior se
concretizara. Da pior forma possível. Quando os primeiro raios de sol
iluminaram a cidade treze corpos sem vida foram encontrados em volta dela.
Todos abatidos da mesma maneira... cabeça semi decepada. Nem uma gota de sangue
no local...
Doutor Carneiro entrou no gabinete do delegado.
Cabisbaixo. Abatido. Ele não esperava que a previsão do delegado e da
professora se concretizassem... ainda mais com tanta violência, como
aconteceu...
Por volta das dez horas começaram a chegar os corpos
ao necrotério. Era necessário identificar as vítimas, avisar seus parentes e
providenciar seu féretro. Afinal, o que mais se poderia fazer em tal
circunstância?
Marieta arranjou umas duas voluntárias para ajudá-la a
lavar e preparar os cadáveres. Não iriam fazer autópsia, uma vez que já sabiam
o que tinha ocorrido. Além disso, não iriam encontrar nada novo nos
corpos...
Depois de um exame superficial, mais para identificar
os corpos que para qualquer outra coisa, Carneiro se dirigiu ao gabinete de
Santana... como das outras vezes, nenhuma das vítimas era de um filho da
cidade...eram todos forasteiros, pegos de surpresa pela violência da noite...
- Santana, seu... seu... como é que você
conseguiu acertar sobre os mortos da noite?
- Eu te falei ontem, Carneiro... os sinais... nós
fomos avisados pelos sinais.
- E os ferimentos são exatamente iguais aos casos
anteriores....é como se estivesse ocorrendo uma repetição da situação.... como
é que pode?!
- Tem ideia de qual arma o assassino usou?
- Oh, isso é simples...a garra que o Delegado Juvêncio
me deu dá certinho com os cortes...
- Usaram uma garra?!
- Sim... mas eu acho que a garra ainda estava presa na
pata do animal...
- Como assim?
- Eu acredito que o Juvêncio está certo... os cortes
são feitos pelo dinossauro...
- Que diabo de bicho é esse?
- Oh, é um animal que não deveria existir... acho que
ele te falou alguma coisa sobre isso..
- Bom, ele me perguntou sobre um lagartão...... como
eu disse, se tivesse um bichão daqueles por aqui, alguém já teria
visto....
- Concordo... mas as características do bicho
coincidem com os ataques... e Juvêncio não parece um homem que se deixa
sugestionar facilmente...
- Então...
- Bem, se definirmos como primeiro suspeito um lagarto
de dois metros de altura, só precisamos descobrir quem o acompanha... porque,
com certeza, não é ele quem bebe o sangue das vítimas...
- E por que não, doutor?
- Posso até estar enganado, mas os lagartos são
carnívoros... nunca soube de alguma espécie que fosse hematófaga...
- Ema... o quê?
- Que se alimenta exclusivamente de sangue... se fosse
o lagartão que estava atrás das presa, comeria o cadáver. Porém...
- Porém o que?
- Fora a cabeça quase arrancada do corpo, e fora a
ausência de sangue, não há mais nenhum tipo de ferimento nas vítimas...
Santana coçou a cabeça, desacorçoado. Agora tinha que
descobrir quem... ou o que... estava matando as pessoas nos arredores da cidade.
Tinha que ficar alerta para avisar os viajantes que se aproximassem da cidade,
para que não fossem pegos de surpresa... e o delegado que veio da Capital para
ajudar continuava desaparecido... é, ele tinha uma bomba nas mãos...
- O senhor vai contratar mais ajudantes?
- Vou precisar... só não sei se vou conseguir...
- Por que?
- Oras... quem é bom com as armas geralmente está do
outro lado da lei... quem segue as leis normalmente não sabe usar armas...
- Mas deve haver alguns vaqueiros que possam servir
para o cargo...
- Esses que eu prendo todo final de semana? Não me
parece uma boa ideia...
- Bem, alguém vai ter que te ajudar. Ainda mais agora
que o Torquato desapareceu...
- Nem me fale... o Torquato e o Juvêncio... que grande
ajuda estão me saindo...
- Sabe se alguma campanha vai passar por nossa cidade
nesses dias?
- Graças a Deus, não tem nada no horizonte. A ultima
coisa que eu precisava no momento era uma boiada atravessando a cidade nesse
momento...
- É... realmente, estamos num mato sem cachorro...
- Bem, o senhor tem que dizer "adeus" à sua
viagem...
- Por enquanto... mas depois que resolvermos essa
situação, pretendo viajar, sim...
E os dois se calaram por alguns momentos, imersos que
estavam em seus próprios pensamentos. De repente Santana pegou-se com seus
pensamentos voltados para Matilde, a professora. Engraçado, se conheciam a
tanto tempo e nunca havia reparado em como ela era bonita... aqueles cachinhos
dourados eram uma tentação, sem dúvida... e quando ela sorria... o que não era
muito comum, pois era uma senhorita muito séria, devido a seu cargo na
escola... meu Deus, aquelas covinhas em sua face eram uma coisa do outro
mundo... Santana balançou a cabeça... isso não era hora de pensar na
professora... tinha coisas mais urgentes para pensar... será que ela era
compromissada com alguém? Ele precisava descobrir... mas que diabos estava
pensando? Dois desaparecidos... dois, não... cinco! Treze mortos... e ele
pensando na professora? Foco, rapaz... foco! O problema agora era descobrir o
que estava ocorrendo na cidade... de onde vinha esse... como podia chamar?...
Esse monstro que atacava os incautos... sim, era melhor focar no problema que
tinha em mãos...
Quanto ao bom doutor, continuava a sonhar com o
conforto que aquele "automóvel" iria lhe proporcionar, quando
finalmente adquirisse um... Já tinha conversado com um representante de uma
empresa norte americana... Fort... Forj.. Ford... bem, era um nome que começava
com "F"... pelo que ele ficou sabendo através de correspondências com
amigos, essa firma estava construindo alguns veículo que, além de fortes e
robustos, também primavam pelo conforto... sim, ele iria adquirir seu carro...
assim que fosse possível ir até Santos... tomara que esse caso do Lagartão se
resolvesse logo... E Carneiro estava decidido... terminado esse caso,
iria se aposentar. Ia entrega tudo nas mãos hábeis de Marieta... e que ela
segurasse o rojão, porque se não conseguisse, com certeza, viria alguém tomar
seu lugar...
Como dá para perceber, embora estivessem envolvidos
com um caso escabroso... não conseguiam ver a luz do fim do túnel... seus
pensamentos estavam bem longe das vítimas futuras... cada um pensava em coisas
que nada tinha a ver com o problema que vivenciavam... o que é perfeitamente
normal para o ser humano. Quando está enfrentando um problema que aparentemente
não tem solução, costuma fugir para outros assuntos mais amenos... é uma forma
de manter a sanidade... e analisar mais calmamente o problema. Às vezes,
consegue até encontrar a solução...
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