WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS Capítulo Trinta e Nove


 

WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS

Capítulo Trinta e Nove

 

Juvêncio estava preocupado. Afinal, desde que retornaram da aldeia dos bugres que as três garotas simplesmente desapareceram. Ele não sabia o que tinham conversado com o pajé, pois este pediu que se retirasse da oca , já que o que iria falar era apenas para os ouvidos delas. Juvêncio estranhou bastante, mas não podia questionar o pedido do curandeiro. De qualquer forma, depois de uma hora mais ou menos, as três saíram do recinto e o chamaram. E retornaram para o vilarejo.

Nem uma palavra sobre o que conversaram foi revelada para nosso amigo. Bem, elas deveriam ter seus motivos. Depois que chegaram na vila, Juvêncio dirigiu-se para a delegacia e as três foram em direção à pensão. Foi a última vez que ele as viu...

Tudo que ficou sabendo da administradora da pousada é que as três moças saíram armadas até os dentes... era como se esperassem se meter em encrencas. Se bem que, pelo que ele se lembrava, encrenca era o que as três viviam procurando.

Depois de digerir o sumiço de suas possíveis auxiliares, resolveu ir comer alguma coisa... afinal, saco vazio não para em pé, já diz o velho ditado...

Não é que conseguiria encontrar as garotas, mas depois do almoço montou seu fiel Tornado e saiu pelas campinas, a procura de pistas sobre onde elas poderiam ter ido.   Não seria tão simples encontrá-las, já que o caminho por onde foram era muito usado pelas pessoas dos arredores.  Mas sabia que  tinham seguido a direção das montanhas. Então, com um pouco de sorte...   

Depois de muito procurar, encontrou a pista de três cavalos que seguiam uma direção específica. Bem, só poderiam ser elas... seria muita coincidência um outro grupo formado por três pessoas ter passado por aquela região em um espaço de tempo tão curto. Então, passou a seguir aquela pista. De repente as moças poderiam estar em perigo, precisando de ajuda...

O sol já estava alto quando finalmente encontrou os animais em um local protegido. Reparou que elas haviam levado suas armas. Deixou Tornado junto aos animais das moças e seguiu a pé, rifle em punho e sempre atento aos movimentos ao seu redor. Com cuidado seguia a pista das três. Em um determinado momento percebeu que elas se separaram. Duas seguiram um caminho e a outra seguiu por uma pista diversa. Pela forma da vegetação à sua volta, notou que, por algum motivo, as moças começaram a se movimentar com cautela. Achou melhor redobrar sua guarda...

Alguns metros a frente do local em que o trio se dividiu, notou um estranho grupo de pegadas. A principio diria que era uma ave, mas... daquele tamanho? Pelas pegadas, fosse o que fosse aquilo, seria bem grande... considerando que a região era bem arborizada,  começou a prestar atenção aos sinais à sua volta. Sim, o bicho realmente era grande... seria melhor não abusar e procurar ficar o mais longe possível. Se não tivesse jeito, paciência... 

Em determinado momento, Juvêncio estacou. Tentava escutar o barulho da mata, mas o mais profundo silencio era tudo o que retornava a ele. Nem mesmo o canto da cigarra era possível ouvir, o que por si só já era estranho em demasia. Nenhum pássaro, nenhuma borboleta esvoaçando pelas flores... Juvêncio começou a perscrutar tudo ao seu redor, a procura de qualquer coisa anormal. Sentia que alguma coisa de muito errada estava acontecendo. Então, ainda ao longe, percebeu a movimentação da folhagem no meio da floresta...

Como o local em que se encontrava era muito desprotegido, e aparentemente o que quer que fosse que estava em movimento estaria vindo em sua direção, ele procurou um lugar que lhe service de abrigo, em caso de ataque... percebeu, não muito longe, uma pequena caverna, protegida por algumas pedras de tamanho razoável a sua frente. Caminhou até o local, torcendo para que o mesmo não estivesse habitado. Deu sorte, pois se havia moradores ali, a muito já o haviam abandonado...

O local era desconfortável, mas Juvêncio conseguiu enfiar-se no mesmo, permanecendo deitado. Em suas mãos repousava o rifle, pronto para entrar em ação, caso fosse necessário... ele esperava que não. Não gostava de atirar naquilo que não entendia. E com certeza não estava entendendo nada do que se passava naquele momento...

Não demorou muito e ele pôde ver o que estava causando tamanho alvoroço... era um bicho que parecia um lagarto gigante. Tinha o que?... uns dois metros de altura? Poderia ser. Deveria ser um pouco mais alto que nosso amigo. Ele farejava o ar, a procura de alguma coisa. Juvêncio tratou de prender a respiração... não desejava ser encontrado...

Uma coisa que deixou nosso amigo intrigado foi a maneira que o animal se movia... Sempre ereto, corria sobre as duas pernas traseiras.... e, sim, o bichão se parecia com um lagarto... mas bem maior... E Juvêncio não pôde deixar de notar que nunca havia visto nada semelhante em sua vida. Se por um lado ficou eufórico por ter a oportunidade de conhecer um novo ser, por outro sua  preservação era sua prioridade.

O animal procurava alguma coisa pelo ar, sem dúvida alguma. Claro que nosso herói torcia para que a fera não o encontrasse... afinal, não tinha certeza de que suas armas dariam conta de tal presa. Além disso, nada garantiria que não haviam outros iguais a ele espalhados pelos arredores... sim, era melhor ficar quieto, apenas observando... e só entrar em ação se fosse absolutamente necessário...

O animal tinha um andar elegante, isso Juvêncio admirou. Apesar do tamanho descomunal da fera, movia-se rápido, sempre a procura de algo que não encontrava. Seus movimentos, enquanto farejava o ar, assemelhavam-se a passos de dança... sim, nosso herói ficou fascinado pelo animal... e quase sentia pena, se tivesse que atirar no mesmo. Enquanto o bichão se mexia em frente ao buraco onde Juvêncio se escondera, este procurava observar todos os detalhes que pudessem ser importantes. Uma coisa descobriu e não o animou muito... provavelmente era aquela fera a responsável pelas mortes que estavam ocorrendo na região... afinal, a altura da criatura era condizente com os ataques sofridos pelas vítimas. E os membros curtos, que observou no mesmo, explicariam porque as vitimas eram quase decepadas... os braços não se estenderiam o suficiente para que a cabeça fosse totalmente extirpada... A única dúvida era quanto ao sangue... essa fera não parecia ser hematófaga... não tinha as características necessárias...

Bem, uma descoberta por vez, pensou nosso amigo... pelo menos agora tinha um suspeito palpável... se bem que... como é que ninguém nunca percebeu um animal daquele porte caminhando por aquele pedaço de chão? Era quase impossível... tudo bem, pode ser que houvessem poucos espécimes daquela fera caminhando por ali, mas ainda assim...

Depois de um bom tempo finalmente o animal resolveu ir para outro local. Juvêncio esperou mais um pouco, até que o som da floresta voltasse ao normal, antes de sair de seu esconderijo. A primeira coisa que procurou foi os sinais de passagem da fera. E embora tenha visto qual a direção que ela tomou, nem mesmo um  folha de grama estava fora do lugar... era como se aquele animal jamais tivesse passado por ali...

 

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