A TAÇA DE CRISTAL - Capítulo Cinquenta e Um


 

A TAÇA DE CRISTAL

Capítulo Cinquenta e Um    

 

Eram pouco mais de meia noite quando Ricardo adentrava na garagem para entregar seu carro.. havia concluído seu primeiro dia de trabalho na nova empresa. Não podia reclamar... o carro que lhe entregaram não era tão ruim e a linha que fez no dia era uma linha boa de se trabalhar. Na sua primeira semana iria trabalhar sempre no turno da tarde. Não era seu horário preferido. Preferia fazer linha direta, mas essa empresa não trabalhava assim... fazer o que, não é mesmo? O negócio era dançar conforme a música. Enquanto esperava naquela fila interminável de carros que estavam recolhendo, pôs-se a pensar nos acontecimentos dos últimos tempos... como a vida é... estava em uma boa empresa (não que a atual não fosse boa, mas na anterior ele já tinha construído uma reputação... que foi por terra por ter vacilado demais), tinha uma esposa excelente...e, sem mais nem menos, tudo desabou! Será que Cecília tinha outro alguém em sua vida? Será que ela o enganara esse tempo todo? Afinal de contas, essa era a única explicação plausível para ela tê-lo abandonado sem mais nem menos... claro que o fato de tê-la agredido nos dias anteriores à fuga, bem como ter uma amante e uma filha fora do casamento, eram fatos irrelevantes... afinal de contas, é normal um homem ter mais de uma mulher em sua vida... além disso, ele nem estava mais com a outra... Cecília era a mulher de sua vida!

E esses pensamentos de jerico começaram a pairar insistentemente em sua cabeça... de repente, a culpa de tudo dar errado em sua vida era única e exclusivamente de Cecília... se ela não queria voltar para sua vida, era porque estava interessada em outro alguém... lhe parecia inconcebível que uma mulher bonita, inteligente e jovem como sua ex realmente estivesse sozinha, sem ninguém em sua vida... não, alguma coisa não encaixava... ele tinha que tirar isso em pratos limpos... afinal, se ela não tinha ninguém em sua vida, por quê não podia voltar com ele? E assim ficou durante todo o tempo em que aguardava que o fiscal viesse fechar sua ficha de trabalho...

Finalmente liberado, foi direto para sua casa... embora só fosse trabalhar no turno da tarde no dia seguinte, optou por não mais ficar dando bobeira na rua... agora seria um homem modelo... de casa para o serviço, do serviço para casa... e nesse intervalo de tempo, investigaria a vida de sua ex...

Seis horas da manhã... e onde estava Adriano? Perto da casa de Helena... ele sabia que Cecília estava morando com a irmã... resolveu que tinha que descobrir onde sua ex estava trabalhando, para que pudesse vigiá-la e descobrir se havia um novo alguém em sua vida. Sabia que, se perguntasse onde ela trabalhava, ninguém lhe daria essa informação. Então optou por começar sua investigação sorrateiramente. Seis e meia... sete horas... sete e meia... oito... nove.... mas essas mulheres não iam sair para trabalhar, não? Já eram quase onze horas, e nenhum sinal de vida se notava na casa em que elas moravam... ou será que haviam se mudado? Só faltava essa... bem, só havia um jeito de descobrir... perguntar para os vizinhos... mas de uma forma que não despertasse suspeitas... como já estava tarde, e logo teria que se dirigir à garagem para iniciar mais um dia de trabalho, Ricardo considerou aquele dia de investigação encerrado. Só perdeu seu tempo... mas não tinha problema... voltaria no dia seguinte. E, se não desse resultado, faria uma visitinha de cortesia à família de Cecília...  ele sabia exatamente quem poderia dar-lhe as informações que necessitava... é claro que esse seria seu ultimo recurso, procuraria descobrir o que lhe interessava sem recorrer a ninguém. Mas, em ultimo caso...

Embora normalmente quem costuma fazer o segundo horário em uma empresa de ônibus vá direto para o ponto final da linha para a qual fora designado, Ricardo foi escalado para trabalhar no pátio da empresa, nesse dia. Iria atuar como manobrista. Não era o que ele gostava, mas não tinha muita escolha. Em todo caso, na garagem teria chances de estabelecer contatos que poderiam ser-lhe úteis em seu futuro profissional. De imediato caiu nas graças do líder dos fiscais de plantão e, enquanto não havia carros para manobrar, ficou na sala de operações, auxiliando a equipe no que precisavam. Um chamado urgente em uma das linhas, solicitando um carro reserva, foi a deixa para que ele pudesse fazer aquilo que mais gostava... trabalhar na linha, fazendo suas viagens e conhecendo novas pessoas. Era um serviço estressante? Sem dúvida... mas ao mesmo tempo achava algo excitante... cada viagem era uma nova história... não havia rotina na vida do rodoviário em ação. E lá foi ele, dirigindo um dos carros de reserva, até o ponto em que solicitaram o apoio...

Ricardo trabalhou o resto do dia nessa linha e realmente gostou do trajeto que tinha que fazer. Era uma linha suave, andava apenas pelos corredores, de terminal para terminal. Simplesmente amou a tarde de trabalho. Tinha muitos passageiros, a linha era de alta rotatividade. Mas era um percurso tão bom de fazer que, quando terminaram as viagens do dia, deu até vontade de pedir para rodar mais um pouco. Mesmo porque o carro que ele dirigia era um dos mais novos da empresa, já que nesta linha não podiam rodar carros um pouco mais desgastados pelo tempo. E assim finalmente recolheu seu veículo para a garagem... como saiu para fazer linha, e já havia completado sua carga diária de oito horas, foi dispensado...mas antes que saísse, o chefe do plantão o avisou que no dia seguinte ele atuaria como fiscal dentro da garagem. Não gostou muito da ideia... preferia estar nas ruas, mesmo porque as chances de se encontrar casualmente com Cecília aumentavam exponencialmente se estivesse trabalhando nas ruas. Mas ordens são ordens, não é mesmo? Como ainda era cedo... era pouco mais de oito horas da noite... resolveu dar uma passadinha pela casa de Helena, para ver se as irmãs estavam ou não naquele endereço... e notou quer todas as luzes estavam apagadas. Decidiu então que no dia seguinte daria uma chegada nas proximidades da casa do senhor Mario... vai que...

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