AS PERDAS DA VIDA...


 Hoje eu acordei com saudades de você

Beijei aquela foto que você me ofertou

Sentei naquele banco da pracinha, só porque

Foi lá que começou o nosso amor

Com esses versos, Carlos Imperial escreve uma ode ao passado, onde recordações doces tornam-se tristes e amargas, devido à ausência de alguém querido. É claro que é uma canção de amor, mas isso pode se aplicar a todos os momentos que já vivemos. Quanto mais avançamos pela estrada da vida mais recordações vão ficando pelo nosso caminho. A vida é feita de perdas e ganhos, e nós temos a tendência de sempre esquecermos das perdas... claro que algumas afloram em nossa mente de tempos em tempos. Da nossa infância, a lembrança de nossos bichinhos de estimação que partiram para a viagem sem retorno... é a nossa primeira perda na vida, e nos acostumar com isso não é fácil...  eu me lembro, por exemplo, que eu tinha um pintinho como bichinho de estimação. Um dia o bichinho ficou doente e morreu. Meu Deus, como chorei pela sua morte... fiquei inconsolável por dias. É claro que depois superei a perda, mas até hoje ainda me lembro do bichinho... Eu o chamava de Zezinho... ah, e, não... ele não foi comprado por meus pais, nem nasceu de nenhuma das galinhas que ciscavam por nosso terreiro. Ele fazia parte de uma ninhada de uma de nossas vizinhas. Um belo de um dia, apareceu em nosso quintal. A dona veio buscá-lo algumas vezes, depois desistiu. Ele não queria ficar em sua casa, de jeito nenhum... e vinha sempre se aninhar em meu colo. Era meu companheiro de brincadeiras, até o dia que adoeceu e partiu...

Minha segunda perda, que eu me lembro... foi a Suzi!   A Suzi era uma cachorrinha que apareceu e foi ficando por ali. Bem, ela não morreu, não em nossa casa, pelo menos. Mas meu pai a levou embora para algum lugar desconhecido, pois não aguentava mais os latidos da bichinha... novamente, fiquei um bom par de dias chorando, inconsolável. Até que superei, novamente. E assim fui tocando a vida, recebendo novos amigos e me desesperando quando estes tinham que partir. E foram muitos bichinhos que me deram o privilégio de sua presença em meu caminhar por este mundo. Alguns ficaram comigo por um tempo razoável, outros por pouco tempo... e assim a vida seguiu...

Podemos dizer que os animais de estimação vem nos preparar para que, quando uma perda de maior vulto acontecer... quando um membro da família vier a faltar... estejamos prontos para aceitar mais facilmente, pois com eles aprendemos que a vida é efêmera. É claro que essas palavras não nos são ditas... se o fizessem, não saberíamos exatamente o que elas significavam. Mas vamos nos acostumando com o conceito, vamos nos acostumando com as perdas que ocorrem em nosso caminho...

Bem, conforme vamos crescendo as perdas ocorrem também no campo sentimental. Primeiro, a perda de nossos amiguinhos, que partem para outros lugares, pois por um motivo ou outro, os pais precisam se mudar. Prometemos a nós mesmos e a eles que vamos continuar a nos ver, mas um ou dois dias depois já nem nos lembramos mais de quem partiu, pois outros vieram ocupar o espaço que ficou vazio por algum tempo. Entramos na escola, conhecemos novos amiguinhos, a professora se torna nossa bússola para nosso futuro. Quando termina o ano, o grupo se dispersa, a professora vai embora... e a sensação de abandono nos acompanha por algum tempo, até que nos acostumamos com a nova situação e nos preparamos para o que vier a seguir...

Se tivermos sorte, chegamos na adolescência com nossa família intacta. E teremos um trauma a menos para enfrentar. Se não tivermos tanta sorte assim... bem, não deve ser fácil crescer na vida sem um dos membros de nosso reduto familiar... não consigo imaginar como seria minha vida quando adolescente se um dos meus pais tivesse partido antes da hora. Queremos que todos, pais e irmãos, permaneçam ao nosso lado por toda a vida... e infelizmente isso não é possível. Infelizmente chega a hora em que temos que partir... e só resta a saudade para aqueles que ficaram para trás...

Finalmente, a perda que também é importante em nossa jornada... as idas e vindas do amor. Começa lá na adolescência. O primeiro namorado é o que deixa mais marcas em nossas vidas, porque ele foi o primeiro. As primeiras juras de amor eterno, o primeiro abraço, o primeiro beijo... e, com as pequenas experiências deste contato, vamos amadurecendo aos poucos e acabamos por desabrochar para a vida. Não  é a toa que costumamos chamar as pessoas nessa fase de "brotos"... pois é isso que são, na verdade. São brotos que estão se desenvolvendo e terão que enfrentar os altos e baixos em suas vidas. Como nós já enfrentamos, não é mesmo? Porém, até nosso ultimo dia nesse plano continuaremos a ganhar e a perder, pois essa é uma constante da vida, essa é a sua dinâmica. Para que alguém possa participar de meu circulo, alguém terá que deixá-lo. e tanto pode ser por uma mudança de local como pode ser um pouco mais tétrico, uma mudança de plano astral... e, para nós, só restará a saudade daqueles que partiram, quando nos sentaremos no banco da praça para recordar momentos que passaram e que foram importantes em nossas vidas...

São nove horas da manhã deste sábado nublado, onde os termômetros estão marcando 23ºC, mas como a umidade relativa do ar está alta, a sensação é de uma temperatura bem mais fria...

Que Deus nos conceda um dia simplesmente maravilhoso, com todos os nossos entes queridos ao nosso lado. Que Ele abençoe a todos nós, e nos permita estarmos juntos novamente amanhã. Beijos...

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