A TAÇA DE CRISTAL - Capítulo Trinta e Cinco


 

A TAÇA DE CRISTAL

Capítulo Trinta e Cinco

 

Dez horas da manhã. Domingo. Um carro parou no portão da casa de Cecília. A motorista acionou a buzina, Cecília saiu para ver quem era... quase não conseguiu acreditar quando viu que era sua irmã  mais velha que tinha ido lhe visitar. E de carro... que novidade era essa, agora? Bem, isso descobriria depois. Tratou de abrir  o portão e recepcionou sua irmã. Tinham muito que conversar. E Cecília andava com umas ideias... Helena não poderia ter chagado em melhor hora...

- Perdida pelo mundo, menina?

- Não... apenas resolvi me dar uns dias de descanso...

-E....?

- E hoje acaba minha moleza... então resolvi visitar minha irmãzinha favorita...

As duas riram. E adentraram na cozinha, que servia de sala de visitas e o que mais precisasse...

- Sabe que estava pensando justamente em você?

- Por que? Aconteceu algo?

- Sim e não... posso te perguntar uma coisa?

- Claro, ué... é só perguntar...

- Você se importaria se eu fosse morar contigo, em sua casa, por algum tempo?

- Não entendi, Ceci...

- Oras... a resposta é simples... é sim ou não...

- Você não havia resolvido morar aqui no interior?

- Sim, mas... sinceramente... já me cansei daqui.... o lugar é muito sossegado...

- Entendo...

- E tenho que aproveitar agora, que meu contrato de experiência está vencendo...

- Sei... 

- E então? Posso ou não morar com você por algum tempo?

- Pode, é claro... mas... e o Ricardo?

- O que tem?

- Ué... você não tinha fugido dele?

- Uma hora a gente tem que parar de fugir...

- Sei... e quando você quer ir?

- Que tal amanhã cedo? Você dorme aqui, a gente passa pela loja, aviso minhas gerente... entrego a chave da casa para a imobiliária... e daí vamos embora...

- Fácil assim?...

- Sim... meu acordo com a Imobiliária é de que só ficaria na casa se passasse a experiência na loja...

- Mas é você quem está rompendo o contrato...

- Sim... mas a Imobiliária não precisa saber disso...

- Está bem... Você vai para minha casa, então...

Cecília abraçou a irmã efusivamente. Ficou muito feliz que sua irmã a aceitasse em sua casa. Mas isso já era esperado... afinal, as duas sempre se deram bem. Depois do almoço elas saíram para passear um pouco pela cidade.  Sentaram-se no banco da praça das Igreja e começaram a colocar a conversa em dia... às seis horas, quando os sinos começaram a badalar, entraram na nave, para suas orações serem encaminhadas diretamente ao Criador. Não que elas realmente acreditassem nisso... mas foi algo automático, como quando eram crianças e iam todos os domingos assistir a missa e tomar a comunhão. 

Antes de dormir, Cecília tratou de arrumar as coisas que iria levar no dia seguinte. Levaria apenas suas roupas,  como quando viera para a cidade. Os poucos móveis que tinha adquirido no tempo que fixara residência ali, deixaria na casa... seria uma compensação por sair do imóvel antes do final do contrato.

Finalmente o dia amanheceu.... Cecília preparou um bom café para as duas, assou alguns pães de queijo. E passaram a devorar seu repasto matinal, pois o dia seria longo... 

Por volta das duas horas as irmãs já estavam na estrada. Iam conversando animadamente. Cecília fazia planos para sua nova vidas em sua terra natal. Sim, ela não conseguiu se acostumar com a paz e a tranquilidade reinantes na cidade que havia escolhido para morar... e dizia para si mesma que, se não saísse dali o mais rápido possível, acabaria ficando doida... bem, doida ela já era, segundo sua família. Afinal, ela não parecia muito certa do juízo nos últimos tempos. Bem, ela tomou uma nova decisão e agora era só seguir em frente com ela...e tudo daria certo... sua maior preocupação era, sem dúvida, seu ex- marido. Mas daria um jeito nisso também. Ela não ia deixar de viver por culpa de alguém tão cafajeste quanto ele. Em todo caso, para sua sorte, seu ex estava vivendo com outra... e dormiam na SUA cama! Portanto, ela não precisaria temer nenhuma ação mais... como diria... ousada da parte dele. E, com esse pensamento reconfortante, ela seguiu viagem com a irmã...

Mais ou menos umas oito da noite Helena finalmente estacionou seu veículo na garagem de sua casa. As duas irmãs desembarcaram, Cecília levou suas coisas para dentro, depois ajudou sua irmã a separar as lembranças que trouxera para a família.  Até ela foi agraciada com um mimo. Quando sua irmã passou pela sua cidade, era para entregar-lhe o presente escolhido...

Helena ligou para sua mãe...

- Mãe, acabei de chegar...

- A senhora não adivinha quem está ao meu lado nesse momento....

- Puxa, mãe...

- Mas eu...

- Tá bem, tá bem... bença, mãe....

- E agora... eu posso falar...?

- A senhora pode me ouvir agora...?

- Sim, mãe, eu sei... bem, eu trouxe a Cecília de volta...

- Como? Quando foi isso?

- É... as coisas vão ficar um pouco complicadas...

Helena finalmente desligou. Olhou séria para a irmã e tratou de soltar os gatos do saco....

- Ceci, seu ex e aquela zinha se separaram...

- Não me faltava mais nada...

- Sempre falta alguma coisa, menina... sempre falta alguma coisa.

- Bem, enquanto ele não souber que estou de volta, posso ficar tranquila...

- Vamos torcer para que ele demore a descobrir.

Mario e Janete estavam preocupados com a noticia que receberam de Helena... mas justo quando Ricardo se separou de sua esposa atual... o ideal era que ele levasse algum tempo para descobrir que a sua ex estava de volta à cidade...

- O que faremos, Mario?

- E o que a gente pode fazer? O negócio é tocar o barco e ver que bicho vai dar...

- Você sabe que ele virá atrás da Ceci...

- Talvez não... de repente...

- Ele ainda gostas da Ceci... 

- Gosta?...

- Você sabe que ele é louco por ela... de um jeito errado, mas é...

- Eu sei... acho que a Ceci arranjou sarna para se coçar quando se casou com ele...

- Bem, a vida é assim, não é mesmo? E como é que ela poderia saber que ele seria... assim?

- Na minha opinião, a melhor coisa que ela fez foi largar daquele traste...  e sumir do mapa... afinal, se ele não tinha ideia de onde ela poderia estar, não teria como ir atrás, não é mesmo?

- Então você acha que ela devia...

- É claro que não... mas que ela estava bem melhor longe daqui... sem dúvida nenhuma, estava. 

- Você não sentia falta dela?

- É claro que sim... mas mil vezes eu ficar com saudades de minha filha e saber que está feliz, do que ela estar de nosso lado e infeliz...

- Eu também prefiro assim... mas...

- Mas...?

- Você não acha que....

- Ah, não, Jane... nem vem que não tem...

-  Mas eu ainda não disse nada...

- Mas eu sei o que você ia dizer...

- Consegue ler pensamentos, agora...

- Não é preciso ser telepata para saber o que você ia dizer...  estás escrito na sua testa...

- O que é que está escrito na minha testa?

- Que você acha que nossa filha tem que voltar para o lado do marido...

-  E isso não está correto?

- Acho que você é louca...

- Por que? Os dois se casaram... a separação de um casal é um pecado mortal...

- Onde que isso é pecado, mulher? Pecado é os dois ficarem juntos, brigando como cão e gato...

- Eu não concordo! Casamento é um sacramento! Não pode e não deve ser rompido por nenhum dos dois....

- Até parece... quer dizer que, porque está casada na Igreja, nossa filha tem que permanecer ao lado daquele... daquele...

- Lembra dos votos? "Até que a morte os separe"...

- Prefiro minha filha viva e saudável, mulher... acho que você não regula bem da cabeça, não...

Nesse momento a porta se abriu e Estela entrou na sala... só ouviu o final da frase que seu pai pronunciara....

- Quem não regula bem da cabeça, papai?

- Sua mãe... ela acha que a Ceci deveria voltar a morar com o Ricardo...

- Credo, mãe... isso é coisa que se diga? Eu não desejaria isso nem para a minha pior inimiga...

- Então vocês acham que estou errada...

Janete se dirigiu à cozinhas, chateada porque ninguém partilhava de sua opinião... e Mario tratou de interrogar a caçula...

- De onde está vindo, mocinhas?

- Da casa do Jairo...

- Mas ele está trabalhando, não está?

- Sim, mas eu fui visitar os seus pais... sabia que o seu Jeremias já está bem melhor? Já consegue até dar uns passos...

- Isso é muito bom... e o Jairo?

- Continua nos dois empregos...

- Não sei como ele está aguentando...

- Eu também não, papai... ele realmente está se matando pela família...

- Vejo que está dando valor a ele, agora...

- Sim... eu sei que ele está se sacrificando...

- Conversaram por esses dias?

- Sim, ontem de manhã, quando fui à missa...

- Você foi...

- Por que a surpresa?

- Nada, não... bem, pelo menos você está saindo mais daquele quarto...

- Eu sei que fui muito imatura... mas prometo que vou mudar...

- Que os anjos digam amém....

 

 

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