A TAÇA DE CRISTAL - Capítulo trinta e oito


 A TAÇA DE CRISTAL

Capítulo trinta e oito


- O que foi, Helena?

- O de sempre...

- Teve outro pesadelo...

- Sim...

- Mas não tinham parado?

- Tinham... fiquei quase uma semana tranquila, em paz...

- E...?

- E, então recomeçaram...

- E o que diz a sua psicóloga?

- Que eu tenho que relaxar... que não posso levar a vida a ferro e fogo....

-  E você leva?

- Claro que não... que pergunta! Acho que sou a pessoa  mais tranquila que você conhece...

- É... tenho que admitir que você é bem tranquila...

- Pois é...

- Mas seus sonhos...

- Pesadelos!

- Pesadelos também são sonhos...  e o que você sonhou? 

- Bem, primeiro eu vi o Jairo...

- Sonhou com ele?!

- Sim... acredita?

- E... o que sonhou?

Helena mordeu os lábios, ficou em silêncio...

- Não quer falar, não é?

Helena continuou muda, imersa em seus pensamentos...

- Poxa, Lena... diga alguma coisa...

Mas a moça realmente não queria falar sobre o assunto, e tratou de falar sobre seu emprego, o quanto estava enfadonho... o mundo das vendas já não a atraiam mais, sentia que necessitava mudar o rumo  de sua vida...

Mario estava preocupado. Tudo parecia estar nos eixos, mas ele sentia que as coisas não estavam bem. Era como se... bem, a sensação que ele tinha era de que, de uma hora para a outra, tudo poderia desabar. A começar por Estela....embora tentasse disfarçar, estava claro para quem quisesse ver que as coisas não estavam bem com a menina. Sim, ela aparentemente estava feliz, ao lado de sua filhinha. era toda mimos e carinhos para com a pequena. Mas, quando a pegavam distraída, quando ela pensava que ninguém a estava observando, era possível notar uma nuvem de tristeza em seu semblante. Tudo bem, era algo compreensível, uma vez que  seu pretendente, o pai de sua filha, havia falecido a pouco tempo... e de forma trágica. De certa forma, Estela se culpava pelo ocorrido ... se não o houvesse pressionado tanto, talvez ele ainda estivesse vivo, deixava escapar nas raras vezes em que se dispunha a falar sobre o ocorrido. Janete não ajudava muito a levantar o astral da menina. Uma vez falou para Estela que tudo isso que ocorrera seria um castigo divino, já que eles não quiseram seguir os ensinamentos da Igreja. Jairo estava por perto e, quando ouviu sua mulher falando isso para a filha, não se conteve e perguntou a esta se estava ficando louca. Janete ficou vermelha... calou-se na hora, abaixou a cabeça e saiu em direção ao seu reduto, a cozinha. Estela chorava baixinho, machucada pelas palavras de sua mãe. Mario a consolava, pedindo que não se importasse com as barbaridades que sua mãe costumava falar... e aos poucos, a moça começou a se acalmar. Para deixar Estela mais confortável, convidou-a para saírem um pouco, e levou a filha e a neta até o shopping, point preferido de Estela. Depois de algumas horas passeando e admirando as lojas, assistido um filme e, logicamente, comer um Mac Donalds no Burguer King, a felicidade estampava novamente o rosto da garota.

Marcela, a irmã de Jairo, estava quase que todos os dias depois da aula visitando sua sobrinha. Ela ficava deslumbrada com a pequena Selene. Um dias perguntou para Estela porque havia escolhido esse nome. Então Estela explicou-lhe que Jairo um dia havia dito que já que ela era uma Estrela  se a criança que ela carregava em seu ventre fosse uma menina, então ela seria a Lua. Por isso o nome...

Geremias voltou ao trabalho. Claro que, de inicio, foi difícil seus clientes lhe darem trabalho, visto que ainda não estava completamente recuperado. Mas, devagar e com paciência, foi reconquistando a confiança destes, e os serviços começaram a surgir naturalmente. Geremias  até tentou ajudar nas despesas da neta, mas sabendo da situação financeira dele e da família, Mario se recusou a deixar Estela aceitar... e ela também não quis aceitar. E assim, seguiram a vida. 

Claro que toda situação sempre tem um "mas".... e o "mas" dessa família tinha um nome...Ricardo. Desde que Roseli separou-se do rapaz, que ele passou a perseguir incansavelmente Cecília. Queria porque queria que ela lhe desse outra chance, mas não conseguia nem mesmo aproximar-se dela. Roseli criou um bloqueio entre os dois, e seus caminhos não se cruzavam. Desde que trocou seu emprego de vendedora de loja para auxiliar de contabilidade, as chances de seu ex a encontrar estavam reduzida quase que a zero. Claro que o risco sempre existia. Mas ela estava conseguindo, ao menos até o momento, evitar encontrar-se com o seu ex. Pois ela sabia que, se voltassem a se encontrar, as consequências desse encontro não seriam nada agradáveis...            

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