WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS Capítulo Vinte e Dois
WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS
Capítulo Vinte e Dois
- Incrível!
- O que é incrível, doutor?
- Essa garra que está me mostrando... já vi uma vez...
- Já? Onde?
- É a garra de um Iguanodonte...
- Então é isso que está atacando as pessoas? Um igua... igua...
- Iguanodonte? De maneira nenhuma...
- Mas o senhor disse que a garra...
- Sim, a garra se parece bastante com o Iguanadonte.... só que tem um
pequeno detalhe...
- Que seria?....
- Esse bicho não existe a muito tempo...
- Mas o senhor falou...
- Olha, realmente esse bicho não existe. E se existisse, com certeza não
seria em nossa pátria...
- Não estou entendendo, doutor...
- Eu explico... o doutor Gideon Mantell descobriu, a alguns anos atrás,
o esqueleto de um animal que a muito não anda mais entre nós...
Juvêncio, Santana e Torquato olharam para o médico sem entender nada...
- Já ouviram falar em dinossauro?
- Dino.. o que?
- Já vi que não... dinossauros eram lagartos gigantescos que caminhavam
sobre a terra a muito tempo atrás...
- Então a unha que achei era de um igu.. dino... desse bicho ai...
- Isso mesmo...
- Mas, doutor... essa unha é recente... tem até marca de sangue,
nela....
- Eu vi... e é isso que não entendo... esses bichos sumiram da face da
terra a muito tempo....
- Bem, pelo menos um está caminhando aqui pelo Espírito Santo dos
Pinhais...
- É impossível, Santana... se um bicho desses estivesse andando por
aqui, tenha certeza de que alguém já o teria avistado...
-Sei... então esse Gideão descobriu esses animais...
- Só os ossos... mas o termo "dinossauro" foi criado por outro
professor cientista, o doutor Richard Owen....
- Nossa... e como o senhor sabe disso, doutor....
- É que eu estudei em Oxford... e tive a sorte de conhece-los
pessoalmente...
Juvêncio coçou a cabeça, desalentado... pensou que seu achado jogaria
alguma luz no mistério até então enfrentado, mas na verdade só deixou mais
perguntas para serem respondidas... o doutor olhava para a unha como uma
criança olha para um doce ou um brinquedo... Juvêncio notou o interesse do
médico. Resolveu que teria mais um ou dois lugares para visitar, mas depois
daria o objeto para o médico...
Depois de uma meia hora de caminhada, finalmente Juvêncio chegou na
morada de Nhô Quindim, um dos mais afamados benzedores da região. Depois de
conversarem sobre amenidades, Juvêncio entrou no assunto que realmente o
interessava. Mostrou a garra para o benzedor. Ao vê-la este estremeceu... não
quis chegar perto da mesma, e encerrou a conversa com o delegado. Aconselhou-o a
se livrar daquele objeto maléfico o mais rápido que pudesse pois, segundo o que
dizia, Juvêncio só teria desgostos enquanto não se livrasse
"daquilo"....
Era bem tarde quando Juvêncio e Torquato apearam na aldeia. Todos já se
haviam recolhido. Torquato seguiu até a oca do Pajé, para pedirem sua proteção
e permissão para passar a noite na aldeia. O Pajé era conhecido por Joaquim, e
já era um senhor de certa idade. Depois dos salamaleques de praxe, Juvêncio
perguntou se poderiam falar sobre o que realmente lhe interessava. Joaquim
pediu para que esperassem até que o dia amanhecesse, pois a noite poderia
trazer influências ruins... poderia atrair forças do mal... não é que Juvêncio
acreditasse piamente nisso, mas já havia visto tanta coisa em sua vida...
era melhor não arriscar. Deitou-se em uma das redes oferecidas pelo pajé,
Torquato dormiu em outra... e assim passaram a noite. Quando o dia amanheceu e
todos fizeram sua primeira refeição finalmente Joaquim permitiu a Juvêncio
perguntar sobre aquilo que o afligia... Imediatamente nosso amigo sacou de seu
alforge a garra que tanto o incomodava e mostrou para seu anfitrião, que não
titubeou em pegá-lo para o examinar melhor. Depois de alguns minutos prestando
atenção ao objeto, devolveu o mesmo. Ficou pensativo por alguns instantes.
Levantou-se, fez sinal para que os dois o acompanhassem. Continuavam em
silêncio. Entraram novamente em sua oca, sentaram-se os três... Joaquim tirou
de seu bolso duas pedras.... a principio pareciam comuns. Fez alguns movimentos
com as mãos, à guisa de benção e depois as entregou aos dois rapazes.
Finalmente começou a falar....
- Os guardiões de Tupã estão soltos no mundo....
Tanto Juvêncio quanto Torquato ficaram em silêncio, olhando para o
feiticeiro, tentando entender o que ele queria dizer. Mas sabiam que, por mais
curiosos que estivessem, não podiam perguntar... ele diria tudo que precisavam
saber, no momento que precisassem saber... mas não pronunciou nenhuma palavra a
mais. Levantou-se, com um gesto convidou os dois a fazerem o mesmo. Montaram
seus cavalos e se preparavam para partir, quando Joaquim resolver falar mais
alguma coisa para eles...
- Nunca se separem dos talismãs que eu dei a vocês... será a sua
proteção contra a fúria de Tupã...
Acenaram com a cabeça, dando a entender que compreenderam a instrução e
partiram a galope pela planície... depois de algum tempo, resolveram
conversar...
- Entendeu alguma coisa?
- O que eu já suspeitava... tem mão de feiticeiro nesse angu...
- E o que vai fazer?
- Tentar descobrir quem teria feito isso... e por que....
- Podem ter sido os índios?
- Índios, negros, brancos... quem vai saber? O que posso dizer é que
alguém estava furioso com a comunidade... e lançou a maldição...
- O Pajé falou em Tupã...
- Sabe que isso não quer dizer nada... ele simplesmente generalizou o
que ocorreu...
- Eu sei...
- Nem todo negro, nem todo branco, nem todo índio é culpado... mas
também não é inocente...
- O senhor quer dizer que...
- Não podemos descartar ninguém... até que descubramos quem é o culpado,
todos são suspeitos...
- Inclusive o delegado?
- Inclusive ele... nas minhas andanças pelo mundo aprendi que aquele de
quem menos desconfiamos pode ser o culpado...
Continuaram o resto do caminho em silêncio... depois de mais algum tempo
avistaram as casas do vilarejo. Juvêncio parou em frente ao necrotério.
Precisava saber se teria ocorrido um novo ataque... afinal, fazia dois dias que
a tranquilidade reinava na região... O doutor encontrava-se em seu
consultório... coisa rara, nos últimos tempos. Embora com aparência cansada,
parecia mais animado... afinal, não precisara examinar nenhum cadáver nesses
dias... Quando Juvêncio entrou em seu gabinete, levantou-se e foi
cumprimentá-lo. Os dois começaram a conversar, Carneiro explicou que mais
uma noite tranquila se passara... Juvêncio sabia que o motivo era a mudança de
Lua... embora fosse a primeira vez, desde que os ataque começaram a uns dois
meses, que as mortes cessaram... seria tão bom se isso fosse definitivo. Mas
ele sabia que, mais dia, menos dia, elas voltariam. Se quando a Lua Cheia
retornasse, dali a quatro semanas, as mortes voltassem a acontecer... isso
queria dizer que, quem quer que fosse o responsável por tudo aquilo, teria
perdido o controle da situação....
Comentários
Postar um comentário