WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS Capítulo Três


 

WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS

Capítulo Três

 

A campina parecia um tapete verde salpicado de cores...as florzinhas coloridas pipocavam por toda a sua extensão. Os pássaros e as borboletas voavam pelo céu, deixando o firmamento mais bonito. As abelhas pousavam nas flores em busca de seu néctar.  Havia muitas espalhadas por ali... sim, o local transpirava uma paz que não condizia com o cenho carregado do cavaleiro que seguia atento ao solo, à procura de alguma coisa. Em determinado momento ele apeou  e começou a examinar  o terreno à sua volta. Com certeza, estava a procura de algo... ou de alguém.  Depois de algum tempo pareceu ter encontrado alguma coisa, pois voltou a montar seu cavalo, negro como a noite sem lua, e saiu em trote acelerado em direção ao sul... 

O cavaleiro continuou nessa marcha por uma meia hora, mais ou menos. Parou seu cavalo perto das margens do rio, apeou novamente e continuou a verificar o solo, como havia feito antes. De repente seu semblante iluminou-se... havia encontrado algo. Começou a caminhar com todo cuidado, procurando sempre deixar os sinais intactos... logo estava adentrando a mata. Trazia seu cavalo pela rédea, para o caso de precisar cavalgar novamente. Mas tinha quase certeza de que o final da história estava chegando... devagar, lentamente, continuou a procurar os sinais pelo chão... até que chegou em seu destino. No meio da mata, em um lugar mal cuidado, estava uma casa totalmente em ruínas... o mato praticamente fechava  a porta, porém os sinais de passagem de alguém... ou de alguma coisa... por ali estavam bem nítidos. Com cuidados redobrados, começou a caminhar em direção à construção. Seguiu os sinais que encontrava da passagem e acabou achando uma trilha que dava acesso ao ambiente  interno do casebre. O cheiro desagradável, nauseabundo, que vinha do recinto obrigou o cavaleiro a cobrir o rosto com seu lenço, na tentativa de respirar melhor... mas realmente não houve melhoras, pois o cheiro de carne podre era forte. O local era sombrio... nenhuma réstia de luz invadia o ambiente. Aos poucos sua visão foi-se acostumando com a penumbra e começou a perceber as variações do lugar. Em um dos cantos, uma massa disforme, que não conseguiu identificar logo de inicio, chamou-lhe a atenção. Ao perceber que era aquilo que procurava, não teve dúvidas... sacou do facão que trazia à cintura e foi direto ao seu alvo. A criatura o percebeu, mas não conseguia reagir, pois estava tomada pelo torpor de um sono sem descanso... o cavaleiro desferiu vários golpes na criatura, decepando-lhe a cabeça. Estranhamente, nenhuma gota de sangue respingou dos cortes desferidos. Quando a criatura finalmente deixou de se mexer, tudo que o homem fez foi observar atentamente o local, para se certificar de que não haveriam outros como o que ele destruíra. Não havia. Saiu tranquilamente do local, fumando um cigarro, para espantar o mal cheiro que o impregnara... precisava tomar um banho urgente... e teria que queimar suas roupas, pois elas jamais perderiam aquele cheiro de morte. Fora do local, percebeu que todo o redor era constituído por vegetação seca... bastava uma pequena fagulha para tudo pegar fogo... e ele precisava queimar a criatura, para ter certeza de que ela não retornaria à vida... foi o que fez. Cuidou para que o fogo não se espalhasse, se concentrasse apenas naquela construção em ruínas. O sol quente ajudou o fogo a devorar toda madeira e o que quer que estivesse em seu interior. Logo, ao ver somente cinzas restarem no local, caminhou até onde estava sua montaria e tratou de retornar para o povoado. Sua missão estava quase completa...

- Então o senhor achou o ninho da coisa...

- Sim, senhor. O que posso garantir com certeza é que aquela criatura não vai mais importunar os moradores dos arredores...

- Mas quem nos garante que não há outros iguais por aí?

- Vou ficar mais algum tempo, para confirmar. Mas tenho quase certeza de que não há nenhum outro igual no raio de uns dez kilometros... 

- E o que te dá tanta certeza, assim?

-Se houvesse mais, o número de vítimas da coisa serão muito maiores, acredite em mim...

- Então o senhor acha...

- Não acho... essas criaturas costumam agir sozinhas...

- Não entendo...

- É simples... elas estabelecem seu território de caça... e não permitem concorrência, já que aí o número de vítimas cairia rapidamente...

- Eu entendo... haveria mais mortes...

- Sim... essa é uma das características dessa besta... está sempre faminta. Para evitar concorrência, não deixa que novos seres de sua estirpe permaneçam em seu território... se for preciso destruí-los, para manter seu predomínio, com certeza o fará...

- Mas o que são essas criaturas, afinal?

- Vou ser sincero com o senhor... não faço a menor ideia... eu diria que são vampiros...mas não posso afirmar...

- E por que não?

- Porque, um vampiro, bem... ele tem um certo porte...

- E...?

- Bem, essas criaturas que andam por aqui parecem estar se decompondo... aliás, não consigo entender como as vítimas não percebem sua aproximação...

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, apenas observando o horizonte. O sol estava se pondo, anunciando mais uma noite que se aproximava. Dali a algumas horas saberiam se ainda havia alguma besta para caçar ou se realmente o local estava limpo. De qualquer forma, Juvêncio teria que permanecer no vilarejo por pelo menos mais uns quinze dias, sempre na expectativa de que algo poderia acontecer... só depois desse tempo poderia afirmar com certeza de que nenhum perigo rondava a região. Juvêncio e o delegado do vilarejo resolveram que era hora de comer alguma coisa. Afinal, nenhum dos dois havia comido qualquer coisa durante o dia todo.  Juvêncio estava no rastro da criatura desde a noite anterior e, para não dizer que não havia posto nada no estômago nesse tempo todo, havia tomado um cantil cheio de café, que foi a única coisa que carregou em sua sela. Mesmo a manta de carne seca que ele costumava carregar em suas andanças, para uma emergência como esta, não tinha levado. Motivo... o cheiro da carne curada poderia atrair a atenção de sua caça, e ele não queria, de maneira alguma, perder o elemento surpresa... quanto ao delegado, ficou o dia todo correndo atrás das ocorrências que não cessavam em sua pequena cidade. E assim os dois se dirigiram à pensão de Dona Filomena, o melhor lugar para se comer em toda a região... mesmo porque era o único. Sentaram-se em uma mesa, pediram um tutu à mineira e para acompanhar, uma garrafa de cerveja. Afinal, depois de um dia duro de trabalho, tinham que relaxar um pouco... mas só um pouquinho, mesmo... a lei não pode se dar ao luxo de baixar a guarda, não é mesmo? E, enquanto  saboreavam o prato que estava em sua frente, trocavam ideias sobre amenidades, colocando os assuntos em dia...

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