WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS - Capítulo Onze

 


WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS

Capítulo Onze


Juvêncio estava cansado de cavalgar neste dia. Havia batido toda a redondeza do vilarejo a procura de pistas, mas nada. Não conseguiu encontrar nada que pudesse dar-lhe ao menos uma ideia sobre o que estaria assombrando a região. Ele sabia que, durante o dia, seria quase impossível encontrar algum sinal de denotasse ataque espectral... mas tinha esperança de encontrar alguma coisa, qualquer indício, de que tipo de fera estaria enfrentando. Sabia que, provavelmente, o monstro da vez teria características de felino. Bem, para quem já havia enfrentado monstros canídeos, não faria muita diferença... em termos, é claro. Afinal, os felídeos eram muito mais escorregadios que os canídeos. E a maior prova era o fato de que estava já há dias batendo a pista sem nada encontrar. O sol começava a baixar no horizonte... nosso amigo estava muito longe do vilarejo mais próximo, então não tinha muita escolha... iria acampar por ali mesmo. Estava próximo do rio, portanto água para tomar um banho e fazer seu café não faltaria. E, se assim o quisesse, poderia ter peixe para o jantar. Mas não queria, não nessa noite. Pegou em seu alforje a manta de carne seca que sempre carregava em suas andanças, cortou um pedaço generoso, colocou-o em um espeto que havia feito com um galho de árvore e o assou na fogueira que havia acendido. Depois de comer seu churrasco improvisado, tomou uma generosa caneca de café que havia coado um pouco antes, esticou seu pelego próximo da fogueira, cobriu-se e tratou de descansar um pouco. Logo cerrou os olhos e dormiu profundamente, o que não era normal para ele... de qualquer forma, só despertou quando o sol já estava alto, na manhã seguinte...

Uma meia hora depois nosso amigo estava novamente montado em seu alazão negro, voltando a procurar pistas... e, pela primeira vez, encontrou algum tipo de sinal... próximo ao local onde repousara, havia algumas pegadas... alguma coisa tentou aproximar-se dele... mas seus talismãs haviam impedido. Sim, Juvêncio carregava sempre consigo vários talismãs, que adquirira ao longo da vida. Eram escudos de proteção contra forças do além... e pelo visto haviam salvado sua vida nesta noite. Juvêncio examinou cuidadosamente as marcas no chão... não se pareciam com nada que já tivesse visto antes. Se lhe perguntassem o que havia deixado as marcas naquele local, teria que ser honesto e dizer que não sabia. Examinou o terreno com cautela. Percebeu que, do nada, as marcas desapareciam. Bem, fosse o que fosse, tentou atacá-lo durante seu sono...

Por volta de umas duas da tarde Juvêncio estava de volta ao povoado. Seguiu direto para a delegacia. Afinal, precisava inteirar-se das novidades da região. Encontrou o delegado em sua sala, conversando com o Legista. Cumprimentou-os, foi convidado a sentar-se, o que aceitou de pronto. Logo foi informado que, durante sua ausência, mas cinco pessoas foram vitimadas pela besta... Juvêncio ficou pensativo... isso não era normal... geralmente essas feras atacavam uma, duas pessoas por lua... essa já havia feito dez vítimas em menos de uma semana... Ele pensou em uma hipótese e não gostou nem um pouco da ideia... não era apenas uma fera que estava atacando, mas sim, um bando deles... e isso complicaria um pouco mais a situação...

- Mas como assim, Delegado?

- Estou falando, pessoal... não é um monstro só! São muitas vítimas... e uma longe da outra...

- Mas... não dizem que essas bestas místicas podem ir de um canto ao outro em questão de segundos?

- Sim e não...

- Como assim?

- Como tudo nesse mundo, eles também seguem regras. Sim, podemos dizer que esses monstros usam "botas sete léguas"...

- Dá para explicar melhor?

- Claro que sim, doutor... a gente diz que algo... ou alguém... usa botas sete léguas quando essa entidade é capas de se transportar de um lugar ao outro instantaneamente...

- E essa... criatura... é capaz disso...

- Não sei porque, mas eu acho que não. Ao menos para mim, é um bando de parasitas que estamos enfrentando...

- E por que o senhor acha isso?

- Tem um mapa da região?

- Sim, claro...

O delegado Santana foi até o armário e pegou um mapa. Claro que esse mapa deveria estar fixado na parede, mas por algum motivo, o delegado preferia deixá-lo guardado ... depois de estendê-lo na mesa, os três ficaram olhando para o mesmo por alguns instantes. Finalmente Juvêncio perguntou...

- Quantos ataques houve esta noite?

- Cinco...

- Cinco vítimas?

- Sim... todas mortas da mesma forma...

Juvêncio ficou estudando o mapa por alguns instantes...

- Santana... onde os corpos foram encontrados?

O delegado fez umas anotações, sempre sob o olhar atento de Juvêncio....

- E então, Santana?

- Então, o quê?

- Olhando esses pontos, você diria que foi apenas um fera atacando a todos?

Depois de examinar as marcas atentamente, Santana foi obrigado a concordar com Juvêncio... os locais eram muito distantes para que apenas uma fera estivesse atacando a região.

- O senhor disse que estamos sendo vítimas de um bando de parasitas...

- E é isso que são. Afinal, depende de sugar nossa vida para sobreviverem...

- Bem, nesse caso, nós também seríamos, não é mesmo?

- Filosofia a essa altura do campeonato, Doutor Carneiro?

- Não é isso, delegado... é que nós também tiramos vidas para continuarmos sobrevivendo...

- Sim, eu sei... é a Lei da Natureza... para que um sobreviva, outro deve fenecer...

- Pronto... agora estamos bem arranjados... Que tal se voltássemos nossa atenção ao nosso problema atual?

- Que seria...?

- Vocês notaram alguma coisa especial nesses ataques?

- Todos morreram?

- Sim... mas além disso...

- Não, eu não consigo ver nada...

- Nem eu...

- Gente, se puxarmos uma linha, ligando os pontos dos ataques, teremos um pentagrama...

- E...?

- Um pentagrama... ainda não entenderam?

- Eu, não. E o senhor, doutor?

- Prá ser sincero, não entendi nadica de nada...

Juvêncio apoia a mão na mesa, desanimado... pelo visto, só ele estava vendo alguma coisa anormal naqueles ataques... 

- E o Torquato?

O que tem ele, delegado?

- Eu precisava falar com ele...

-  Agora não dá... ele foi visitar a família... e eles moram longe...

- Volta logo?

- Daqui a um mês, mais ou menos...  o pai dele está doente...

- De repente, ele nem volta...

- Porque?

- É que seu pai é o cacique da tribo... se ele morrer, o Torquato assume o lugar do pai...

- Não me faltava mais nada...

- O que foi, delegado?

- Nada... nada! Bem, qualquer coisa, vou visitá-lo na tribo, então...

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