SANTO AMARO, MEU AMOR...

 

SANTO AMARO, MEU AMOR...

Estava a toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor...

Com esses versos se inicia uma musica do Chico Buarque que nos remete ao passado, quando bandas musicais costumavam se apresentar nos coretos das cidade. A bem da verdade, nunca assisti a uma apresentação de uma dessas bandas, onde os instrumentos eram basicamente percussão e metal. Quando estava ainda no primeiro ciclo, a direção de minha escola até tentou montar uma fanfarra (era moda na época as escolas competirem com suas bandas), mas por falta de patrocínio a ideia acabou sendo posta de lado. Nossa diretora gostava de artes, e o que ela podia tentar para trazer um pouco de cultura para a comunidade, ela tentou. Criou um jornalzinho, que não passou do segundo número, promoveu alguns festivais musicais com os alunos, incentivando estes a criar suas musicas e montar seus conjuntos musicais, promoveu um concurso de pintura... de todas essas tentativas, a única que fazia um sucesso relativo era, sem dúvida, o concurso de Miss Primavera...

Aqui em Santo Amaro, na Praça Floriano Peixoto, tem um coreto onde quase toda semana haviam apresentações dos mais variados gêneros musicais. Como a maioria dos santamarenses vieram do interior do Estado, normalmente os grupos musicais que ali se apresentavam eram sertanejos. Do tempo em que uma dupla caipira tinha que saber tocar bem uma viola e não existiam os recurso tecnológicos disponíveis para os artistas de hoje. Aliás, nos dias atuais, seria impossível para qualquer artista apresentar-se com a sua parafernália em um coreto de uma praça. Isso porque o espaço é exíguo, mal cabem cinco ou seis pessoas no local. Mas, na época, era a diversão dos munícipes. Ah, sim, é bom esclarecer que Santo Amaro é uma das regiões que compõem a Cidade de São Paulo. Hoje ela perdeu muito de sua majestade, mas a não muito tempo atrás tinha todo um ar de cidade interiorana. Sua Catedral, fundada em 1.560, quando o casal de portugueses João Pais e Suzana Rodrigues doaram a imagem de Santo Amaro, é parte importante da história de nosso Estado e nosso País. Em 14 de janeiro de 1.686, com provisão passada pelo Bispo Dom José Alarcão,  criou-se oficialmente a paróquia e nomeou-se seu primeiro vigário, o padre João de Pontes.  creio que eu não disse ainda, mas o responsável direto pela fundação de nossa Catedral foi ninguém menos que o Padre José de Anchieta... foi assim... quando Anchieta veio visitar a região do Ibirapuera, ele viu a necessidade de erguer uma capela para consolidar a identidade do território. Tranquilo, vamos lá e a construímos! Mas... não era tão simples, assim. Para que a pudesse erguer, era necessário que existisse uma imagem sagrada. E foi aí que o casal entrou na história. João e Suzana eram um casal de lavradores portugueses que chegaram ao Brasil junto com Martin Afonso. Muito religiosos, guardavam consigo uma imagem de Santo Amaro e eram devotos fervorosos do santo. Quando soube do casal, Anchieta foi procurá-los na Cupecê... onde hoje fica a Avenida Cupecê, uma das principais vias de acesso ao centro de São Paulo, e explicou-lhes sua intenção de levar a imagem do santo para o aldeamento de Ibirapuera, no que foi prontamente atendido. E foi assim que, no dia 15 de janeiro de 1560 o Padre Anchieta realizou oficialmente a primeira missa na colina da aldeia do Ibirapuera, onde a construção de uma pequena e singela capela tornou-se a semente de uma cidade... que a pouco menos de cem anos perdeu este status, sendo anexada a Cidade de São Paulo... que continua a escrever sua história até os dias de hoje.... ah, sim, Ibirapuera deu lugar a Santo Amaro, que era o nome do santo , afinal... 

Santo Amaro foi o ponto de partida de boa parte das bandeiras que exploraram nosso Brasil, ampliando as fronteiras deste para além do Tratado de Tordesilhas. Um dos bandeirantes mais famosos foi Borba Gato. Paulo Eiró, poeta e dramaturgo, nasceu em Santo Amaro. O aeroporto de Congonhas ficava em Santo Amaro...

Porque resolvi falar de Santo Amaro hoje? Não sei bem... é que simplesmente amo esse pedaço de chão, que não é mais o mesmo de minha infância, mas ainda assim me traz doces recordações. Não sou santamarense de nascimento, mas cresci aqui. E meus filhos nasceram aqui.... então, quando ouço a composição de Chico Buarque, viajo através do tempo e imagino essa terra como deveria ter sido a cinquenta, cem anos atrás... um paraíso na terra... 

São 15:38 hr desta quinta feira fria e chuvosa (estamos com 19ºC no momento e a tendência é a temperatura cair ainda mais...), mas ao mesmo tempo agradável, como só essa terra sabe ser...

Até amanhã, e que Deus derrame sobre nossas cabeças as benções do Céu....