NATAL DE OUTRORA

 


NATAL DE OUTRORA



"Bate o sino, pequenino, sino de Belém...

Já nasceu, Deus Menino, para o nosso bem...

Paz na Terra, fala o sino, alegre a tocar,

Abençoe, Deus Menino, esse nosso lar..."


E não é que daqui a uma semana já é Natal? Meu Deus, como esse ano passou voando! Ontem mesmo ainda era janeiro... parece que o tempo está mais acelerado, ultimamente! Bom, considerando os acontecimentos dos últimos meses, poderíamos até dizer que o tempo passar tão rápido é até uma benção. Poderíamos... mas não é bem assim. Se a sensação de que o tempo ao nosso redor está correndo é assim tão palpável no ar, isso quer dizer que estamos perdendo alguma coisa. E isso, definitivamente, não é bom...

Quando eu era criança, adorava o Natal. Mesmo sem expectativas de ganhar presentes do Papai Noel... a gente sabia que quem dava os presentes eram nossos pais... pois a situação financeira em casa nunca foi das melhores, por algum motivo essa época do ano era carregada com um ar de encanto e magia que é difícil de explicar. Não sei... talvez a galinha cozida para o almoço natalino (não era sempre que tínhamos tal iguaria na mesa... embora eu não comesse, nunca gostei de carne cozida, mas o cheiro era simplesmente fantástico), ou quem sabe, o bolo que minha mãe assava para o dia ... era a única data do ano em que tínhamos bolo em casa... bem, não sei explicar, mas era um dia todo especial. Normalmente íamos assistir a Missa do Galo na igrejinha do bairro. Ela ficava lotada... aquele ar mágico dava todo um motivo especial para a noite... e o ápice era a queima de fogos, no final da missa.

Confesso que não gosto do som dos rojões. Não seu porque, mas o estrondo destes me incomoda, e muito. E o cheiro da pólvora queimada... mas, apesar disso, naquele momento, eu achava lindo o céu iluminado com a profusão de cores, como se mil novas estrelas nascessem de repente...

Bom, terminada a Missa, íamos todos de volta aos nossos lares. Era o dia em que podíamos brincar até mais tarde...é importante lembrar que nessa época não existia iluminação pública nessa região. Então, só dava para brincar no terreiro se fosse noite de lua cheia. Os homens se reuniam em uma das casas... algumas vezes, era na nossa... afinavam seus instrumentos e ficavam o resto da noite cantando músicas de Folia de Reis e bebendo cachaça, para festejar aquela data festiva. Algumas vezes saiam de casa em casa, levando com eles a homenagem ao nascimento do Filho de Deus. Outras, ficavam a noite toda em um só lugar. A magia daquela homenagem era quase palpável. Bem, é claro que as crianças não ficavam a noite toda acordadas. Tinha uma hora em que entregavam os pontos e adormeciam nos braços de Morfeu...

No dia seguinte era hora de estrear os novos brinquedos. Quem tinha a sorte de ganhar os presentes de seus pais era camarada o suficiente para reparti-los nos folguedos com quem não tinha ganho nada. E todo mundo se divertia...

A minha primeira boneca, presente de Natal, ganhei quando meu pai conseguiu uma colocação em uma empresa que no final de ano fazia uma festa para todos os funcionários e seus familiares. Foi uma emoção indescritível receber, pela primeira vez em minha vida, das mãos do Papai Noel o meu presente. Meu irmãozinho ganhou um carrinho de corrida. Tinha cachorro quente, bolo, doces... e no final ainda ganhamos uma cesta de Natal... sim, foi simplesmente um dia fantástico em nossa vida.

Para se ter uma ideia do quanto a gente era... digamos assim... desatualizado quanto a gastronomia, veio na cesta um presunto e um vidro de maionese. Faltava ainda uns quinze dias para o Natal, então o presunto ou deveria ser consumido de imediato, visto que não resistiria fora de geladeira, ou, pelo motivo que expus, guardado em um refrigerador. Não tínhamos geladeira, então... só que, por desconhecimento, meus pais resolveram guardar o presunto para o Natal... claro que ele estragou e tiveram que jogar fora... quanto à maionese, minha mãe não tinha ideia do que fazer com aquilo. Alguns dias depois, quando minha tia veio nos visitar, minha mãe lhe mostrou o pote. A tia lhe disse o que era, e falou para ela que era uma delícia... minha mãe ouviu, e como não fazia a menor ideia de como usar aquilo, acabou dando o vidro para sua cunhada, que ficou feliz ao ganhar tal iguaria...

Os ouros itens, nós adoramos. Uva passa, que a minha mãe colocou no bolo, nozes, que só tinha visto nas histórias do Tico e Teco, figo e outras frutas secas, torrone, uma lata de pêssego... meu Deus, que delicia... foi o melhor Natal, no tocante a comida, que tivemos até então...

Hoje, ao recordar tudo isso eu vejo o quanto minha infância foi feliz, mesmo não tendo um décimo do que temos nos dias atuais. A gente ficava feliz em ver as estrelas no firmamento e ouvir os sons noturnos da mata... enfim...

Não temos mais cantoria de Folia de Reis, nem a magia do Papai Noel de antigamente... mas, bem no fundo de minha alma, ainda ouço os risos de alegria ao receber seu primeiro presente do Bom Velhinho, daquela menina feliz que um dia fui... não que hoje eu não seja feliz, mas era uma felicidade diferente...

São 9:10hrs deste domingo lindo e maravilhoso, estamos no momento com 22ºC, sem previsão de chuva para hoje. Ou seja, dá para aproveitar bem este dia espetacular.  Fiquem com Deus, e até amanhã, se Ele assim o permitir.  Beijos.... 


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