CHUVA...


 

CHUVA...


São sete horas e quinze minutos da manhã desta terça feira fria e chuvosa (em contraste com ontem, que a esta hora já estava com uma temperatura quase igual a de hoje, 21ºC, mas com a sensação de calor). Como eu já disse algumas vezes, o clima paulista não segue nenhuma lógica. Em um dia pode estar fazendo um calor infernal, no dia seguinte, tudo muda e somos obrigados a tirar o casaco do guarda roupa. Isso quando não acontece tudo no mesmo dia. Muitas vezes, nessa ou em qualquer outra época do ano, você sai de casa agasalhada, porque o tempo está frio. De repente, sem aviso prévio, a temperatura sobe nas alturas e você tem que se descascar. Então, como em um passe de mágica, o céu desaba um aguaceiro sobre a terra e se você não estiver preparada, vai tomar um banho inesperado. Depois o sol aparece, com a cara mais lavada do mundo, como se ele não tivesse nada a ver com o ocorrido... e viva o trópico!

A água está caindo lá fora. Mansa, tranquila. O barulho dela é agradável, nos convida a ficarmos mais um pouquinho debaixo das cobertas. Pena que não é possível fazer isso, ao menos para mim e para outros que tem que cumprir seus compromissos. Bom, pelo menos minha pequenina pode aproveitar ao máximo o direito de dormir com o barulho da chuva. Como eu fazia, quando tinha a idade dela. Meu Deus, como era gostoso ouvir o barulho da água batendo no telhado... e aquele friozinho que acompanhava a chuva... e o cheiro das plantas, aquele perfume inebriante a espalhar-se por todo o ar, o cheiro da terra molhada... não, não tinha coisa mais gostosa (e bonita) do que isso. Acho que já comentei com vocês que minha casa parecia uma floresta... não de árvores, mas de flores. Sim, minha mãe adora flores,  e nosso quintal era tomado por essas. Dálias de todas a cores e tamanhos, palmas, sempre vivas, rosas (as favoritas de minha mãe são as vermelhas, mas ela tinha várias espécies plantadas no quintal), lírios, copo de leite, girassol, margaridas... era uma profusão de cores e perfumes. Quando chovia, aquele cheiro gostoso de terra molhada, junto com o perfume que as flores exalavam, fazia com que nos sentíssemos no céu. É claro que nem tudo era maravilhoso. Na verdade, a casa tinha umas goteiras (e quem nunca teve goteiras em casa, antigamente) e a gente tinha que ficar atenta para não se molhar, mas...

Perto de casa a mata era fechada, e tinha um grande calipal. Os pés de eucalipto eram muito bonitos. Mas o seu cheiro... Meu Deus do Céu, que coisa mais gostosa... quando o vento soprava de leste para oeste (sim, a gente morava no sentido oeste em relação a floresta de eucaliptos) e o cheiro de suas folhas chegava até nós, não existia nada mais gostoso de se sentir. Fora, é claro, ouvir aquele barulho do vento passando por entre as folhas... não dá para descrever o quanto aquilo era lindo.

Durante a chuva o silencio imperava na mata. Os animaizinhos se abrigavam e ficavam quietinhos em suas tocas e ninhos. Mas quando a chuva passava... a revoada de pássaros era certa. Bem-te-vis, pintassilgos, curiós, tico-ticos, pardais... pássaros de todos os tamanhos e cores ganhavam os céus e enchiam a natureza com seu gorjeio lindo, agradecendo a Natureza por ter-lhes proporcionado tal espetáculo. As borboletas vinham visitar o jardim, pousando de flor em flor. Naquela época haviam várias espécies de borboletas por aqui, hoje quando muito você encontra uma Vanessa solitária procurando alguma flor para pousar... joaninhas, besouros de vários tipos e tamanhos, paquinhas, cigarras... Meu Deus, como era lindo...

Geralmente, quando a chuva passava, minha mãe costumava ir buscar lenha para cozinhar. É claro que não era o momento ideal, afinal de contas lenha molhada é um pouco difícil de queimar. Mas como a chuva costumava cair sem avisar, e o estoque de lenha geralmente era para no máximo um dia, não tinha outra solução que não a de enfrentar a relva molhada e buscar combustível para poder fazer as refeições da noite e da manhã...

Íamos nós três, minha mãe na frente, com o seu machado para cortar a lenha que necessitava, eu e meu irmãozinho logo atrás. A oferta de frutas silvestres na região era grande. Então, enquanto nos embrenhávamos pela mata, íamos colhendo amoras, morangos, juás e outras iguarias, e comíamos... Meu Deus, um juá maduro é a coisa mais gostosa  do mundo, não tem nada igual... o morango silvestre tem um sabor que estes morango que compramos nas feiras supermercados jamais terá... e as amoras? Bem diferentes das amoras que conhecemos hoje em dia, eram tão doces e macias, que simplesmente derretiam na boca... sim, mesmo com todos os percalços enfrentados em nosso dia a dia, isso aqui era o paraíso...

Já falei das poças de água que se formavam, principalmente nas touceiras de capim? Nossa, era simplesmente lindo... e os regatos? Quando você estava perto de um deles quando a chuva começava, Meu Deus, que coisa linda... os peixinhos ficavam em polvorosa... ah, sim, aqui era uma região piscosa. Você encontrava peixes praticamente em todos os lagos, grandes ou pequenos. E eles iam para a represa através dos pequenos riozinhos que cortavam toda a região...

Nossa, já está na hora de parar... São sete horas e cinquenta minutos. Daqui a meia hora preciso ir para o escritório. A chuva está mais fina, transformou-se em uma garoa fina. Ainda assim provavelmente vou precisar levar minha sombrinha...

Bem, até amanhã, quando se Deus quiser, estarei de volta para conversarmos um pouco mais... Que Deus abençoe a todos nós, nos permitindo termos uma terça feira feliz, onde tudo aquilo que desejamos nos seja concedido na medida do possível. Fiquem com Deus. Beijos a todos e até amanhã, se Deus assim o permitir... 

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