64 - A VOLTA AO LAR
64 - A VOLTA AO LAR
As três Marias estavam rezando na Igreja... sim, eram três... Maria Rosa, chamada apenas de Rosa, Maria das Graças, conhecida como Graça e Maria Isabel, ou simplesmente Maria... as três haviam chegado a pouco no povoado junto com o seu prisioneiro, o entregaram para o coronel Leôncio, pai da moça que havia morrido por culpa de Zé Ferreira. Receberam o prêmio pela entrega, foram devolver as armas, mas Leôncio disse-lhes que as conservassem, pois pelo visto em suas mãos seriam bem usadas. Não dá para dizer que Graça não ficou com a consciência um pouco pesada, quando deixou Zé Ferreira nas mãos daquele que seria seu algoz... mas depois, pensando em quanto o dinheiro ajudaria na recuperação de sua mãe, sua consciência ficou um pouco mais leve... claro que não foi bem assim, mas de certa maneira, foi... Antes de retornarem até a casa de Maria resolveram dar uma parada na Igreja, para agradecer por tudo ter corrido tão bem para elas... Rosa ia agradecer por ter tido uma nova chance na vida...
Já estavam a um bom par de minutos rezando em agradecimento, quando a professora entrou na nave... seguiu até o altar, se persignou, ajoelhou-se e começou a orar. Dava para ver pelo semblante dela que alguma coisa a preocupava. As três moças a notaram. E destas, Maria era a que tinha alguma intimidade com a mestra... fora sua aluna desde que essa chegara na cidade. Maria resolveu aproximar-se da professora, e interrompeu sua meditação...
- Professora, a senhora por aqui...
Alice levantou o rosto, mas voltou a abaixá-lo, concentrada que estava em seu terço. Depois de algum tempo, terminada sua oração, voltou-se para as meninas...
- Maria, Graça... a quanto tempo!
- Bastante, professora... é que estávamos andando pelo mundo...
- Estou vendo que estão acompanhadas por uma nova amiga... eu nunca a tinha visto por aqui...
- Professora, essa é a Rosa... nós a conhecemos durante nossa jornada...
- Acho que aqui não é o local mais apropriado para conversarmos... que tal sairmos lá fora?
As três garotas assentiram positivamente, e as quatro saíram, indo em direção à praça.
As quatro moças sentaram-se em um dos bancos da praça e começaram a conversar animadamente. Riam dos casos que relatavam, ouviam sérias outras histórias... Alice contou para Graça que sua mãe havia sido internada em um hospital na Capital, e que o delegado que estava na cidade, investigando alguns casos aparentemente sem solução é que bancara a viagem da mesma. Graça ficou um pouco triste com a notícia, pois esperava reencontrar sua mãe... afinal já fazia um bom tempo que as duas não se viam... mas não podia deixar de se sentir agradecida pelo gesto daquele estranho que se preocupara com sua semelhante. Conversaram mais algum tempo, então Alice perguntou às moças se já haviam almoçado... ela estava faminta... e como a resposta destas é que também desejavam enfrentar uma boa refeição, as quatro seguiram para a pensão da dona Mônica, que sem dúvida era o melhor lugar para se comer na região. É verdade que Maria sentiu uma pontinha de remorso por não ir direto para casa, rever seus pais e irmãos, mas nessa hora com certeza estariam todos trabalhando e não teria ninguém para recebe-la até que a tarde chegasse. E quando viu o prato fumegante de virado à paulista, o seu prato preferido, todo e qualquer resquício de remorso se evaporou como a fumaça que subia da comida que estava à sua frente. Depois de se fartarem, encerrando o almoço com um bom pedaço de bolo de milho acompanhado com um café bem forte, ganharam a rua novamente, colocando a conversa em dia. A professora estava tranquila, pois não tinha mais nenhuma aula para ministrar naquela tarde, seu plantão na biblioteca seria apenas no dia seguinte e a reunião que o delegado Vicente havia convocado seria somente à noite. Alice ficou curiosa sobre Rosa, e perguntou a esta sobre sua vida, no que foi prontamente atendida. Quando Rosa contou como as moças haviam cuidado de seu marido e seus amigos, a professora caiu na gargalhada, dizendo que gostaria de estar no local para apreciar a cena. Ao saber da presteza e rapidez de Maria com as armas, ficou admirada, pois ao que sabia, a moça jamais havia manejado qualquer arma antes... e assim passaram a tarde, conversando, rindo, se divertindo com banalidades...
Mais ou menos umas cinco da tarde Alberto passou próximo à praça e avistou Alice, indo de pronto ao seu encontro. Ficou surpreso ao ver quem a acompanhava. Colocou Graça a par do estado de saúde de sua mãe, explicando-lhe que ela estava fora de perigo e que, mais alguns dias, receberia alta e retornaria para o vilarejo. Graça ficou feliz com a notícia, e perguntou como poderia pagar por tudo o que fizeram por sua mãe... Alberto explicou que ele mesmo não havia feito nada, que tudo fora organizado pelo delegado Vicente, e que mais tarde os apresentaria.
Como estava com fome, Alberto convidou as quatro moças a acompanhá-lo para um café, uma vez que ainda era cedo para enfrentar um jantar. E lá foram os cinco, rua abaixo, para atacar mais um bolo, desta vez de banana, junto com um belo e quente chocolate...
Depois de se despedirem, as três seguiram para a casa de Maria, já que apenas ela teria alguém a sua espera nessa altura dos acontecimentos. Como o lugar onde morava era afastado do vilarejo, as três voltaram a montar seus cavalos e seguiram pela pradaria lentamente, aproveitando o por do sol que se avizinhava. E a noite já se fazia presente quando finalmente apearam em frente à sua casa. A princípio sua mãe não acreditou quando viu sua filha desmontar... levou alguns segundos para reconhecê-la, já que a moça estava bem diferente de quando partira. Abraçaram-se efusivamente, e lágrimas de alegria rolavam pelo rosto da matriarca que tanto havia rezado, pedindo a Deus e seus santos de devoção que trouxessem sua menina sã e salva de volta ao lar. Tudo bem que, como eu disse, ela estava bem diferente da menina que havia saído pelo mundo em busca de aventura, mas Deus a trouxera de volta, linda e intacta. Maria tratou de apresentar Rosa para sua mãe e explicou-lhe que a moça precisaria passar algum tempo com elas, pois não tinha para onde ir. Sua mãe respondeu que teriam que conversar com seu pai, mas que não via nenhum empecilho que impedisse a moça de permanecer por ali enquanto necessitasse. Logo em seguida a matriarca virou-se para Graça e explicou-lhe sobre o estado de saúde de sua mãe, repetindo a esta a informação de que logo ela estaria de volta ao seio de sua família... as três foram se banhar e trocar de roupa, pois sua senda havia chegado ao fim e estavam de volta ao aconchego do lar...
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