61 - UMA NOVA REUNIÃO...
61 - UMA NOVA REUNIÃO...
Mais uma reunião com os cinco se iniciava. Duarte resolveu fazer uma piadinha com a situação... estavam na Távola Redonda... isso se devia ao fato de que a mesa que usavam era circular. Não estavam nem na delegacia nem no consultório médico. Haviam reservado uma sala na pensão de dona Mônica, e nessa sala estava a tal mesa, com as cinco cadeiras solicitadas por Juvêncio. O primeiro a chegar foi doutor Alberto, sendo seguido pelo doutor Andrade, depois a professora Alice e por ultimo, Zacarias. Todos se sentaram, e esperaram que Juvêncio iniciasse a sessão. Ele continuava de pé, pensativo. Visivelmente, algo o incomodava. Pediu licença ao grupo e saiu da sala por alguns instantes. Retornou com o cenho carregado, semblante fechado, expressão preocupada. Tomou seu acento, olhou ao redor, conferindo se os participantes estavam todos ali como ele solicitara. Na frente de cada um deles havia uma pasta e um caderno com um lápis para possíveis anotações. Juvêncio continuava compenetrado em seus pensamentos, o ambiente estava pesado, dava para sentir a tensão no ar. Juvêncio pegou a jarra de água que estava sobre a mesa, encheu um dos copos, sorveu o líquido e finalmente começou a falar...
- Creio ser desnecessário explicar-lhes porque os chamei aqui...
- Os últimos acontecimentos, não é mesmo?
- Sim... mais dois corpos foram encontrados... e novamente nenhum deles tinha uma gota de sangue sequer em suas veias...
- Não se esqueça do corpo sem as entranhas...
- Sim, doutor Alberto, tem razão... dois corpos sem sangue e um sem entranhas... e sem ferimentos...
- Seu Vicente, nas duas ultimas semanas tivemos um total de quinze mortos em circunstâncias estranhas...
- Eu sei... seu Zacarias, poderia nos dizer alguma coisa?
- Bom... eu fiz algumas investigações, como o senhor me pediu...
- E...?
- Bom, eu não tenho nenhuma prova concreta em mãos... por ora, tudo o que eu posso dizer é que estamos enfrentando um vampiro e parte de seu séquito em nossa região....
Fora Juvêncio, a reação dos outros membros presentes foi de surpresa sobre as conclusões de Zacarias, que não se abalou com a cara de descrédito que fizeram. Simplesmente continuou...
- Antes que digam que isso são histórias que se conta ao pé da fogueira, para assustar criancinhas, um esclarecimento... não se costuma ouvir falar dessas criaturas porque normalmente elas estão em regiões onde há conflitos armados entre grupos divergentes... portanto, seus ataques passam despercebidos entre as pessoas normais...
- Pessoal, isso que o seu Zacarias está falando procede... a melhor maneira de se esconder é ficar em evidencia no lugar que menos te esperam... e que te dão mais condições de passar despercebido...
- Mas isso que vocês estão falando não tem sentido nenhum...
- Dona Alice, a senhora é uma estudiosa. É uma pessoa inteligente. Sabe que nem tudo o que acontece é contado para todo mundo...
- Sim, eu sei... agora, dizer que onde há guerra tem seres sobrenaturais...
- Dona Alice... ninguém disse que são seres sobrenaturais...
- E seriam o que, então?
- Sinceramente, não sei... o que sei é que conseguem nos usar como se fôssemos seu gado particular, escolhem qual de nós desejam devorar e simplesmente nos consomem, como fazemos com nossos animais...
- Seu Zacarias... como é que eles podem transformar uma pessoa comum em um deles?
- Não faço idéia... talvez o doutor Alberto possa nos dar uma luz sobre isso...
Doutor Alberto olhou para todos os presentes, que haviam dirigido seu olhar para ele. Levantou-se, caminhou um pouco pela sala, compenetrado naquilo que poderia falar... bem, como é que poderia falar sobre algo que não fazia a menor idéia do que poderia ser? A gente sempre tem uma teoria, mas essas são facilmente desmontadas quando se descobre como a realidade funciona... mas, já que queriam ouvir alguma coisa, ele diria o que pensava que poderia ser... ou seja, daria a sua opinião...
- Pessoal... antes de nada mais, peço que me desculpem... sou ignorante quando o assunto é o inexplicável... o sobrenatural... o que vou falar aqui para vocês são minhas impressões pessoais, não quer dizer que sejam a verdade....
- Tudo bem, doutor... é só isso que estamos pedindo para o senhor...
- Então lá vai... ao que tudo indica, quando alguém é atacado por essas... entidades... bem, elas são infectadas por algum tipo de vírus...
- Vírus? o que é isso?
- Depois eu explico... deixa eu continuar minha linha de raciocínio, por favor... normalmente as vítimas não resistem ao ataque e vem a falecer em seguida... essas são as pessoas com sorte... mas, por algum motivo, alguns acabam resistindo ao ferimento e sobrevivem...
- Isso é possível, doutor?
- Claro, Andrade... ou já se esqueceu do Mané da Tiana?
Ao ouvir falar sobre o Mané da Tiana, Alice se mexeu, mostrando desconforto em sua cadeira. Apenas Juvêncio e Zacarias perceberam isso, pois Andrade estava prestando atenção em Alberto, que por sua vez tentava explicar seu ponto de vista aos presentes e acabou por não ver a reação de sua amada. Zacarias podia jurar que a cor dos olhos da professora haviam mudado de azuis para negros, mas foi por apenas uma fração de segundos... para confirmar sua impressão, resolveu interpelar Alice...
- Professora, o que a senhorita acha da explicação de Alberto?
Todos se voltaram para Alice, inclusive Alberto. Todos queriam ouvir o ponto de vista da mestra. Meio sem jeito, Alice se pronunciou...
- Pessoal, essa não é a minha praia... aliás, nem sei o que estou fazendo aqui... sim, eu sou uma pesquisadora... mas, ao contrário do senhor Zacarias aqui presente, minhas pesquisas se referem às origens das famílias. Não sei nada sobre casos fantásticos, não são de meu interesse...
- A gente sabe, professora... mas suas pesquisas sobre as famílias podem nos ajudar bastante. De repente, é em seus escritos que se encontra a solução de tudo o que estamos passando...
- Não vejo que relação poderia ter...
- Nem nós... ao menos por enquanto...
Juvêncio resolveu retomar o comando, passando a palavra para Alice...
- Dona Alice, sabemos que a senhora não é médica... mas sabemos, também, que é uma estudiosa fervorosa. E que gosta de anotar todas as descobertas que faz. Em sua opinião pessoal, a visão de Alberto sobre esses... vírus... poderia ter algum fundo de verdade?
- Mas é claro que sim... suponhamos que encontramos alguma dessas criaturas fantásticas em nosso caminho e somos por ela atacados.... alguns dos membros da equipe com certeza se salvarão... e é aí que esses microorganismos agirão...
- Então a senhora acha isso perfeitamente possível de acontecer...
- Sim sem dúvida alguma...
- E eu concordo com a Alice, seu Juvêncio....
- Bem, então estamos de acordo que a propagação se dá através do contato físico com o agente causador...
- Sim, isso é ponto pacífico... a transmissão se dá por contato físico... com toda certeza, pela saliva do agente em questão...
- Nesse caso, a única maneira de evitar tal situação seria não se deixar tocar por este...
- O que, em todas as situações, se mostrou impossível...
- Sim, porque na verdade a pessoa está sendo atacada... é uma vítima...
- Na verdade, é a presa de algum predador...
- Ou seja, alguma coisa está caçando as pessoas...
- Que, no caso, são vistas apenas como "comida"...
- Acho que podemos dar um nome para o nosso predador... seria "A Mulher de Branco"...
A menção foi feita por Zacarias, que junto com Juvêncio, prestava atenção às reações da professora. Notaram que ela se controlava a muito custo, e a impressão que tiveram antes com relação a troca da cor de seus olhos se repetiu... sim , a moça estava extremamente desconfortável...
- Mas ninguém que a viu permaneceu vivo para contar a história... como vamos saber que ela existe, realmente?
Desta vez foi Juvêncio quem se manifestou, relatando a visão que tivera na orla do rio. Todos ouviram seu relato, prestando atenção em todos os pormenores. E mais uma vez Juvêncio e Zacarias notaram o desconforto de Alice enquanto os fatos eram relatados...
Continuaram a trocar informações por mais uma hora, então Juvêncio resolveu encerrar a reunião, pedindo a todos que retornassem no dia seguinte no mesmo horário... e que cada um investigasse o que fosse possível, para que pudessem continuar a discussão no próximo encontro... depois que todos saíram, e que ficaram apenas Juvêncio e Zacarias, o primeiro resolveu interpelar seu parceiro...
- E então... o que o senhor acha?
- Sinceramente? Cada vez mais me convenço que o nosso alvo é a professora...
- Concordo... mas vamos fazer mais algumas investigações, antes de darmos nosso parecer... não quero acusar uma pessoa inocente... não em um caso desses...
- O senhor está certo, seu Vicente... esse é um caso deveras delicado....
E os dois também ganharam a rua, indo cada um para seu destino na noite...
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