57 - WALKÜREN
57 - WALKÜREN
A noite ainda se fazia alta, mas um pequeno grupo avançava pela campina... os raios do luar clareavam a estrada que seguiam, embora não fosse uma noite de lua cheia... dava para ver o caminho, porém não tinha como avistar mais de cem metros, por exemplo... eram quatro cavaleiros que venciam a noite lenta, inexoravelmente... mas porque essa urgência, porque cavalgar à noite correndo todos os riscos que o véu noturno costuma trazer para os incautos? Era essa a pergunta que Rosa se fazia, desde que começaram a cavalgada, a umas duas horas atrás...
Ela até tentou conversar com Graça, a líder do grupo... mas não foi bem sucedida... Graça resolveu que deveriam começar a caminhada de volta a sua terra naquela hora e ninguém conseguiu demovê-la dessa ideia. Claro que os homens feridos e mortos durante o embate que tiveram no local teve um grande peso em sua decisão... Afinal, eram sete homens para três mulheres, e apenas duas portavam armas de fogo, ao menos no inicio... mas Graça não deixou que isso atrapalhasse sua ação...
Deveriam ser umas dez horas da noite, mais ou menos... pela posição da Lua e das estrelas... quando resolveram que era chegada a hora... Rosa avistou a primeira vítima... o homem que seria o protetor do sono de seu grupo. Bom, provavelmente devido ao cansaço do dia, ele estava no mais profundo dos sonos, e Rosa não teve dificuldades em desarmar e amarrar o mesmo... e conseguir uma arma para o caso de precisar. Tirou o cinturão de sua vitima e tratou de imobilizá-la, antes que acordasse. Rapidamente, verificou a câmara da arma, constatou que estava carregada... estava pronta para agir... tinha agora um revolver e um rifle cedidos gentilmente pelo vigia do grupo que caçavam... como alguém disse certa vez... quem está de guarda e acaba dormindo corre o risco de acordar tocando harpa...
Infelizmente o resto do pessoal não pôde ser subjugado tão facilmente quanto o vigia... por um desses percalços da vida, alguém do grupo não estava com tanto sono e assim que ouviu o barulho da garota imobilizando o guarda, tratou de acordar seus companheiros e ficaram todos prontos para receber quem que que estivesse se preparando para atacá-los... bem, o fator surpresa não mais existia, porém elas ainda estavam em melhor posição para atacar o seu alvo...
Quando Graça gritou para os homens a ordem de se renderem a reação dos mesmos foi de atirar contra a direção da voz instantaneamente... claro que a moça estava protegida por um tronco de árvore que lhe serviu de escudo... de pronto respondeu a agressão, tomando cuidado para não ferir nenhum dos homens... mas quando a chuva de balas em sua direção aumentou, ela chegou à conclusão que não era hora de ter princípios... afinal algum deles poderia errar e feri-la durante o tiroteio...
Maria e Rosa também começaram a atirar, dificultando um pouco mais a vida dos homens que ficaram sem onde se proteger... haviam escolhido mal o local de seu acampamento, uma vez que não esperavam que alguém os perseguisse tão cedo... e alguns dos homens do grupo de Zé Ferreira começaram a reclamar com este por não ter permitido darem cabo das moças que o haviam perseguido antes...
O tiroteio não durou muito... cerca de uns dez, quinze minutos... mas para o envolvidos pareceu uma eternidade. Quando se deram conta de que seus alvos não iriam se render facilmente as moças começaram a ajustar melhor sua pontaria... até então não estavam preocupadas em ferir ninguém. Mas, a partir de um certo ponto, chegaram a conclusão de que ou neutralizavam seus oponentes ou ficariam sem munição... e numa luta corpo a corpo com certeza seriam derrotadas...
Devagar, lentamente, foram derrubando seus oponentes. Não estavam preocupadas em aniquilar os inimigos, apenas neutralizá-los. Mas alguns não se conformavam em ser derrotados por um bando de mulheres e, mesmo baleados, continuavam a atirar. E aí as garotas acabavam por abater aqueles que resistiam ao tiroteio... no final, só restaram Zé Ferreira, dois dos seus amigos baleados e o vigia que estava amarrado , escondido no meio do arvoredo. Quando Zé se viu sozinho, isolado, simplesmente levantou as mãos em sinal de rendição...
- Eu devia ter deixado os homens darem cabo de vocês...
- E por que não deixou?
- Sei que você não acredita em mim, moça... mas eu não sou assassino.
- Você matou uma menina...
- Foi um acidente...
- Fugiu do local...
- Claro... se o pai da moça me pegasse...
- Bom, tenho uma péssima notícia para você... ele te pegou...
- Faz parte do jogo...
- Sim...
- Posso te perguntar uma coisa, moça?
- Pergunte...
- Você sabe o que ele vai fazer comigo...
- Não, não sei...
- Você não quer saber... mas sabe...
- Olha, depois que eu te entregar para o coronel, não me interessa o que vai acontecer contigo...
- Eu admito que sou trambiqueiro... já prejudiquei muita gente... mas nunca, antes, feri quem quer que fosse...
- Você matou a filha do coronel...
- Eu já disse... foi um acidente...
- Pode até ser... mas ela morreu...
- E os meus amigos?
- O que tem eles?
- É isso que estou perguntando... o que vai fazer com eles?
- Eu? Nada... se não tivessem reagido, nenhum deles teria se ferido...
- Bom, dois dos meus amigos estão feridos... e o resto, morto...
- Não, tem um que ainda está vivo...
- Como? Vocês mataram todos eles...
- Não... o seu vigia está amarrado, mas vivo e sem nenhum ferimento...aliás, só o orgulho dele ficou ferido nessa história...
- E agora?
- Agora? Vamos deixar seus amigos aqui e vamos partir... você tem umas contas para acertar com alguém...
Dito isso, Graça tratou de imobilizar Zé Ferreira, colocou-o na sela de seu cavalo, recolheu todos os cinturões com suas respectivas armas, soltou o vigia, que estava simplesmente apavorado e espantou os cavalos restantes. Ela e suas amigas montaram, e antes de partir, falou com o homem...
- Dois de seus amigos estão vivos... depende de você eles continuarem assim ou não... ah, se esqueça da gente, pois se cruzarmos nossos caminhos novamente, vocês terminarão cavalgando as grandes pradarias celestes... Compreende?
O homem, assustado, concordou com um gesto de cabeça. Em seguida Graça e suas amigas, conduzindo o cavalo de Zé Ferreira, partiram noite a dentro.
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