51 - A ESPERA
51 - A ESPERA
- Graça, você ouviu? Estão chegando!
Era Maria, eufórica, contando a novidade para sua amiga, que estava deitada na cama...
- Sim, menina... eu ouvi... mas não vão chegar na fazenda antes que a noite caia... sossega...
- Como vou sossegar? Não era isso o que a gente estava esperando?
- Sim, menina... mas, calma... até os vaqueiros chegarem na fazenda, entregarem o gado, conferir as cabeças... vai demorar um mundão, ainda...
- Será que os vaqueiros vem prá cidade hoje?
- Acho que não... até terminarem todo o trabalho, vai ser noite alta... e estão cansados da viagem...
- Mas sempre tem aquele que acha que uma cachaça ajuda a descansar o corpo...
- Eu sei, Maria... mas vão tomar cachaça lá na fazenda, mesmo... hoje não vai vir ninguém para a cidade...
Maria se sentou na beira da cama... segurou seu chapéu, amassando suas abas. Estava nervosa, dava para perceber pelas suas mãos...
- Tão perto...
- Acho que amanhã a gente acaba com essa história...
- Ou começa outra...
Rosa, que até então se encontrava calada, resolve entrar na conversa...
- Vocês acham que ele vem para a cidade?
Maria e Graça olham para ela, sérias...
- Estamos contando com isso... imagina se ele resolve ir embora direto da fazenda...
Maria olha para Graça, antes de falar...
- Não era melhor a gente esperar por eles lá na fazenda? Vai que...
- E que desculpa a gente ia usar, Maria?
- Sei lá...
- Mulher, se acalma... vai dar tudo certo...
Rosa olhou para as duas, e percebeu o quanto ambas estavam tensas, embora Graça conseguisse disfarçar seu nervosismo...
- Gente, se quiserem, posso fazer um chá de maracujá para vocês... ou de camomila... vocês estão muito nervosas...
- Obrigada, Rosa... só se a Maria quiser... eu prefiro não...
- Rosa, acho que vou aceitar, sim... estou um bocado nervosa....
E lá foi Rosa, para a cozinha da Pensão... pediria licença e faria um bule de chá para as amigas... até ela estava precisando...
Uma meia hora depois as três estavam se deliciando com o chá de maracujá feito por Rosa. Conversavam sobre amenidades, despreocupadas com a vida, ao menos por alguns momentos... Ao terminarem, Graça resolveu que deveriam esticar um pouco as pernas, já que era quase hora do almoço e ainda não tinham saído do quarto. Na verdade, o que ela realmente queria era saber a que distância encontrava-se o gado que lhe interessava. Afinal, era hora de planejar como agir quando finalmente chegasse a hora. Mas, como eu disse, ela não queria que suas amigas soubessem de sua preocupação, então sugeriu um passeio pelo campo... uma cavalgada antes de enfrentar o barreado, a galinhada, o afogado e o pudim de pão que seria servido para o almoço do dia...
As três garotas foram para o estábulo, onde pegaram suas montarias. Selaram seus animais e ganharam a estrada, rumo à saida do vilarejo... em direção à chegada do gado... Depois de uma hora de cavalgada, mais ou menos, Graça fez sinal para as amigas pararem. Apearam e ficaram simplesmente observando a natureza. Maria sentou-se sob um pé de ipê e ficou brincando com as flores selvagens à sua volta. Graça e Rosa caminhavam pela pradaria, usufruindo cada minuto de seu passeio... os pássaros cantavam na mata, longe da vista das moças. Borboletas esvoaçavam por todo o local, e as cigarras, com seu canto característico enchiam todo o ar com sua sonoridade...
- Meninas, está tudo muito bonito, mas estou ficando com fome... que tal deixarmos para continuar nosso passeio depois do almoço?
Era Rosa, reclamando de seu estômago que roncava de tempos em tempos...Maria riu da situação da amiga, Graça decidiu que a moça tinha razão... era melhor voltarem para a vila e comerem alguma coisa... mais tarde voltavam para a campina, para colocar as ideias em ordem... e se preparar para o dia seguinte, que prometia ser bem agitado...
Um bom par de horas depois, já devidamente saciadas, as três moças voltaram a cavalgar pela pradaria. Desta vez resolveram avançar pelo campo um pouco mais, na esperança de avistarem a comitiva que, segundo ouviram, estava próxima do local em que se encontravam. Seguiam a passo lento, pois não havia necessidade de correrem, uma vez que tudo que faziam era um reconhecimento do local. Depois de muito cavalgarem, perceberam uma nuvem de poeira a uma boa distância de onde estavam. Pela distância da nuvem, e considerando que o terreno era plano, calcularam que a comitiva deveria estar a umas duas horas de distância... e pensando na distância que separava o local em que se encontravam para a fazenda, se tudo corresse bem, antes de umas dez horas da noite não chegariam no seu destino... o que significava que só iriam completar a viagem no dia seguinte, pois ninguém é louco de conduzir o gado noite a dentro...
- E agora, Graça? O que a gente faz?
- Eu iria tranquilamente para a Pensão descansar para o dia de amanhã...
- Eles estão muito perto...
- Sim, estão... mas hoje não completam a viagem...
- E se o boiadeiro for meio doido?
- Nem que fosse por inteiro... se arriscar a perder uma rês por viajar à noite? Não vale o risco...
- Maria... acho que a Graça tem razão... dificilmente ele vão se arriscar a conduzir o gado à noite... principalmente porque estamos na lua nova... talvez, se fosse lua cheia...
- Além disso, o céu está cheio de nuvens... a noite fica mais escura, ainda...
- Acho que vocês tem razão... é provável que eles só alcancem a fazenda lá pela hora do almoço....
- Sim... e a tarde, com certeza, os vaqueiros devem visitar a cidade...
- Acho que vai ser melhor assim...
- Sabe que não vejo a hora de tudo isso acabar?
- Eu entendo, Maria. Juro que entendo... mas estamos chegando ao final...
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