WALKÜREN - AS TRÊS MARIAS Capítulo Cinquenta e Oito
WALKÜREN - AS TRÊS
MARIAS
Capítulo Cinquenta e Oito
Depois de muito pensar, Juvêncio chegou à conclusão de
que não conseguiria encontrar o covil de sua caça. Afinal, era um ser
mágico, e com certeza seu local de descanso era protegido por algum tipo de
encanto. O máximo que nosso amigo conseguiria era deduzir mais ou menos o local
em que Anhangá poderia aparecer em sua próxima incursão. As três Marias, com
certeza, deveriam saber onde tal coisa ocorreria. Mas elas jamais lhe contariam...
estavam sob um encanto, e não tinham como escapar deste.
Pelo que Matilde lhe contou, o lugar sagrado da fera
deveria ser muito antigo. E, provavelmente, estaria intocado por mãos humanas a
séculos. Aí estava a chave para descobrir o que desejava.... encontrar um
pedaço da floresta inexplorado.
Juvêncio começou a pensar sobre o assunto. Lembrou-se
de uma história que ouvira, de um dos benzedores que visitou, logo que chegou à
cidade. Foi na época em que desconfiava que algum feiticeiro da região pudesse
ter invocado a entidade, por algum tipo de vingança. Que bom se fosse realmente
isso... ah, sim, quanto à historia...
Havia uma parte da floresta, perto das montanhas, que
era um matagal fechado... poucas pessoas se arriscavam a por os pés nessa parte
da mata, e das que ousavam se embrenhar pela floresta, somente uma ou outra
retornava. A maioria sumia sem deixar nenhum vestígio... o que tornava essa
região..."especial"... era o fato de que os cães se recusavam a
vasculhar a área. Nenhum perdigueiro entrava naquele pedaço de chão. Quando os
donos, impacientes, prendiam os animais na coleira e tentavam arrastá-los mata
adentro, os bichos simplesmente empacavam, como é costume dos burros fazer. E
nada... mas nada, mesmo... os convencia a entrar ali...
Bem, era uma pista. Que valia a pena investigar. Mas
não naquele dia. A noite já estava chegando e não era aconselhável entrar em
terreno desconhecido assim, sem estar preparado... por esse motivo, nosso amigo
montou Tornado e retornou para o povoado... descansaria a noite, e de manhã
voltaria para explorar aquela região. Mas antes teria um dedo de prosa com
Matilde. De repente, ela poderia saber de alguma coisa importante.
Depois de muito pensar, resolveu convidar Matilde para
jantar na pensão, quando então conversariam sobre o assunto. E também chamaria
as três Marias para participarem da conversa. Embora estivesse ciente de que
elas não ajudariam em nada sobre as investigações, sua esperança era de que, ao
falarem sobre algo que tivesse a ver com o caso, Izabel confirmasse o fato. Das
outras duas não adiantava esperar nada... elas realmente seguiam as ordens de
seja lá quem for. Mas o encanto sobre Izabel, ao que parecia, era mais fraco...
e ela acabava sempre dando alguma pista importante sobre os fatos...
- Isso é tudo o que descobri, Juvêncio... e não foi
nada fácil...
- Entendo, dona Matilde... é uma história contada de
pai para filho, é natural que alguns pontos se percam...
- Elas conferem com alguns pontos dos desenhos que te
falei.... existe um lugar que já foi usado para adorar esse... esse...
- Essa entidade. Eu sei... o problema é a gente
descobrir onde fica isso...
- Olha... se eu fosse arriscar um palpite... seria na
região da serra, perto da queda d'água...
- Na floresta "encantada"?
- Sim... dizem que naquele lugar lúgubre tem um rio
que corta toda a extensão da mata.... e há várias quedas d'agua em seu
percurso...
- Vale a pena dar uma olhada...
- Aposto que o senhor vai para lá amanhã...
- Assim que raiar o sol...
- Posso ir contigo?
Era Izabel, se oferecendo para acompanhar o delegado.
- Sabe que não pode vir sozinha... suas parceiras
teriam que vir, também...
Izabel se vira para suas amigas...
- E então, meninas? Que tal sair dessa pasmaceira?
As duas concordaram. Afinal, elas também já estavam
cansadas de ficar o tempo todo paradas... precisavam de ação. Seu corpo pedia
isso.
- Tudo bem, então... amanhã, logo cedo, estou pegando
estradão...
- Juvêncio... posso ir com vocês?
- Pode ser perigoso, Matilde. Não sabemos o que vamos
encontrar....
- Já provei que sou mais dura do que pareço. Eu sei me
cuidar.
- Eu sei, dona Matilde... mas é que... eu me preocupo
com a senhorita...
Matilde sorriu. Então o delegado sentia alguma coisa
por ela... isso a deixava feliz, pois ele também a atraia. Desde a primeira vez
que o viu, sentiu alguma coisa que não sabia... nem queria... explicar. Sim,
ele tinha algo que Matilde simplesmente adorava... e a deixava fascinada.
Deveria ser umas quatro horas da manhã... o galo cantava
alto, avisando que logo o sol nasceria. Mas as estrelas ainda brilhavam no céu.
Juvêncio levantou, foi fazer sua higiene pessoal... ainda era muito cedo para o
pessoal da pensão, mas como ele era um cliente especial, a cozinheira já
preparava um desjejum não só para ele como para suas companheiras de viagem...
Embora morasse a algumas quadras da pensão, Matilde
resolveu juntar-se ao grupo de aventureiros desde o desjejum. Assim teria
certeza de que não ficaria de fora daquela pequena excursão. Depois de tanto
tempo atrás de uma escrivaninha, sentia necessidade de participar efetivamente
de uma caçada... mesmo que fosse ao sobrenatural.
Depois de se saciarem e pegarem um farnel para a
viagem... afinal, se tudo desse certo só retornariam à noite... finalmente
chegou a hora de partir. Verificaram suas armas e munição... nenhuma bala de
chumbo fazia parte de seu equipamento... bem como as armas de corte… todo o
arsenal era de prata, pois embora o aço seja o metal mais forte, a prata era o
único material letal para o inimigo que iriam caçar.
Finalmente estavam a caminho da mata. O local que
iriam investigar ficava a umas duas horas de cavalgada lenta, sem forçar os
animais. E assim foram, os animais trotando, sem pressa de chegar ao destino.
Quando chegavam ao pé da montanha, o sol começava a escalar o céu...
Mais meia hora cavalgando entre as árvores e chegaram
à parte lúgubre da floresta. Parecia estarem em outro mundo... arvores com
galhos retorcidos davam ao local um ar ainda mais sinistro do que o esperado.
Juvêncio desmontou, sacou seu facão e começou a abrir uma passagem entre a
vegetação. Devido à formação dos arbustos e cipós por ali espalhados, o grupo
achou melhor deixar suas montarias na parte da floresta iluminada pelo
sol. Entrariam a pé na parte escura. Essa parte realmente era escura, pois as
copas das árvores se entrelaçavam de tal forma que impediam a entrada dos raios
de sol. O cheiro da vegetação em decomposição era muito forte. Embora fosse a
fonte de nutrientes necessários para a vida da floresta, a impressão de que
estavam em um vale da morte era forte... a sorte estava lançada...
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